sexta-feira, 24 de junho de 2022
Dvar Torá: Educar judaicamente para um mundo que não conhecemos (CIP)
quinta-feira, 23 de junho de 2022
Podcast "Torá com Fritas" - ep. 36: Judaísmo Reconstrucionista
(conteúdo originalmente publicado em https://podbay.fm/p/tora-com-fritas/e/1655971223)
No trigésimo sexto episódio, Theo Hotz e Ângela Goldstein conversam com o rabino Rogério Cukierman, da congregação israelita paulista (a CIP), sobre judaísmo reconstrucionista, uma das mais recentes correntes judaicas.
As indicações são:
- O filme Moloch, de 1999, do diretor Alexander Sokurov
E os livros:
- "O judaísmo como uma civilização" - Mordechai Kaplan
- "Here all along" - Sarah Herwitz
- “A jewish theology” - Louis Jacobs
- “Cabalá prática” - Leibwolf
- “Radical judaism” - Art Green
sexta-feira, 17 de junho de 2022
Dvar Torá: Por que é tão difícil não falar mal dos outros? (CIP)
- Difamamos = דיברנו דופי
- Incitamos o mal = הרשענו
- Acusamos falsamente = טפלנו שקר
- Demos mau conselho = יעצנו רע
- Zombamos = לצנו
- Provocamos = ניאצנו
quinta-feira, 9 de junho de 2022
Por um Judaísmo sem castas
Em uma das passagens de que eu mais gosto na Mishná, o texto diz que o primeiro ser humano foi criado sozinho para que ninguém possa chegar a outra pessoa argumentando que seus antepassados são mais nobres que os do outro [1]. Afinal de contas, se formos realmente à raiz das nossas árvores genealógicas, perceberemos que todos descendemos da mesma pessoa! Este aspecto equalizador é bastante presente na tradição judaica e resultado direto de outro princípio da criação do ser humano: a ideia de que fomos criados à imagem de Deus. De acordo com o professor Nahum Sarna, em outras culturas era comum que os reis fossem vistos como criados à imagem Divina, mas o judaísmo inovou ao democratizar este aspecto, atribuindo-o não apenas aos reis, mas a toda a humanidade [2].
Em algumas passagens da Torá, por outro lado, não apenas a humanidade, mas também o povo de Israel é enxergado através de distinções de tribo, de origem e de status. Em particular, a tribo de Levi, à qual pertenciam Moshé, Aharón e Miriám, recebe um papel importante nas funções comunitárias. Enquanto o povo em geral passou por um censo para determinar quem eram os homens aptos a servir no exército, os Levitas passaram por um censo distinto e a eles foram atribuídas funções de proteção do Mishcán, o templo móvel que acompanhou os hebreus durante os 40 anos em que vagaram pelo deserto, e outras tarefas administrativas.
Entre os levitas, os descendentes de Aharón (os Cohanim) receberam funções sacerdotais hereditárias e ficaram responsáveis pela condução das funções religiosas. A dimensão religiosa de sua conduta fez com que também na condução de suas vidas privadas, os Cohanim fossem sujeitos a regras específicas: por exemplo, não poderiam casar-se com alguém que fosse divorciado nem poderiam entrar em contato com um cadáver. Na parashá desta semana, Deus instruiu Aharón e seus filhos a respeito de uma bênção especial ao povo, que ficou conhecida como “Bircat haCoahnim”, a "bênção sacerdotal” e que apenas os Cohanim poderiam pronunciar [3].
Há muitos séculos, desde a destruição do Segundo Templo e o desenvolvimento do Judaísmo Rabínico, a liderança religiosa do povo judeu não é mais atribuída aos Cohanim, nem é transmitida de forma hereditária. Há quase dois mil anos, nosso povo tem sido liderado por rabinos que se destacam pela sua erudição e espiritualidade, não necessariamente pela sua linhagem. Ao mesmo tempo em que perderam sua relevância sacerdotal, no entanto, os Cohanim mantiveram algumas regras no seu tratamento que, alguns (dentre os quais eu me incluo) acreditam, devem ser revistas.
Em uma tradição judaica que acredita que todos fomos criados à imagem Divina e somos dotados da mesma dignidade intrínseca, não há mais lugar para privilégios ou restrições baseadas apenas na família em que alguém nasceu. Por que os cohanim deveriam ser chamados antes que outros grupos para a leitura da Torá? E por que não poderiam acompanhar um grande amigo no enterro de seu pai? Não faz sentido, na minha opinião, que eles tenham suas oportunidades de união matrimonial limitadas apenas porque vêm de uma família com história sacerdotal.
Apesar de não ser Cohen, não me sinto constrangido quando canto Bircat haCohanim ao final de todo Cabalat Shabat e peço a Deus que abençoe e proteja toda a nossa comunidade. Pelo contrário, me sinto honrado pela possibilidade que recebo de participar com vocês nos momentos centrais de suas vidas, dos nascimentos aos enterros e de todos os dilemas contidos entre os dois e de transmitir, em cada um destes encontros, minha paixão por um judaísmo relevante para os tempos em que vivemos e em linha com nossos valores.
Shabat Shalom
sexta-feira, 3 de junho de 2022
Dvar Torá: Democracia dentro e fora de casa (CIP)
sexta-feira, 20 de maio de 2022
Dvar Torá: O Judaísmo Fora da Caverna (CIP)
quinta-feira, 19 de maio de 2022
Transformando valores em ações
É interessante ver como, às vezes, conseguimos todos concordar com relação a alguns grandes ideais (ou algumas palavras vagas) apesar de apresentarmos profundas discordâncias com relação aos detalhes destes conceitos (ou, por outro lado, nunca termos parado para pensar que detalhes seriam estes). Há um incentivo perverso nestas situações a nos mantermos nestes lugares comuns sobre os quais concordamos e não detalharmos o que eles significam, “para não criar discórdia”
Há alguns anos, por exemplo, fui convidado a participar de um evento inter-religioso que seria centrado ao redor de três palavras: “vida”, “família” e “paz”. À primeira vista parecia uma excelente ideia, quem poderia ser contra estes três conceitos?! Quando começamos a conversar mais sobre cada um deles, no entanto, percebi que meu entendimento era diametralmente oposto àquele das pessoas que estavam me convidando. Mesmo ideias aparentemente bem definidas como vida, família e paz podem esconder interpretações subjetivas e nada consensuais. Delicadamente, declinei o convite mas nunca esqueci daquela situação.
“Vida”, “família” e “paz” são valores fundamentais da tradição judaica, quando eles têm significados específicos, não em qualquer definição possível. Da forma análoga, a questão da “Justiça” é também valor central e que, por isso, não fica restrito a afirmações genéricas do tipo “você deve buscar a mais absoluta forma de justiça” [1], mas estabelecendo abordagens concretas com relação ao estabelecimento de um sistema judicial honesto, que não favoreça nem os poderosos nem os oprimidos [2].
A discussão da responsabilidade social judaica, seja com relação ao meio-ambiente ou com outras pessoas, também pode levar a falsos consensos a menos que esteja baseada em políticas concretas. Na parashá desta semana (beHar), encontramos mecanismos concretos de tornar estas responsabilidades efetivas. A Torá não se limita a compromissos genéricos com a justiça ambiental: estabelece que a terra deve descansar completamente a cada sete anos, permitindo que se regenere antes de voltar a produzir. Da mesma forma, nossa parashá vai além do desejo de que uma sociedade justa e igualitária se estabelecesse entre os israelitas: cria a regra de que o acúmulo de terras seria cancelado a cada cinquenta anos, retornando à distribuição original, como definida quando o povo entrou na terra de Israel pela primeira vez.
Quantos de nós podemos dizer que agimos de forma semelhante à prescrita pela Torá na passagem desta semana? Me parece que muitas vezes afirmamos nossa simpatia por conceitos abstratos exatamente porque sabemos que eles não terão qualquer impacto na vida que levamos, que não nos forçarão a mudar em nada o que já fazemos. Por exemplo, manifestamos nossa preocupação com o meio ambiente ao mesmo tempo em que não mudamos nossos hábitos de consumo; expressamos o sonho de uma sociedade menos injusta mas não nos mostramos dispostos a abrir mão dos privilégios de que desfrutamos. E, assim, em muitas outras situações nos manifestamos comprometidos com algumas causas sem fazermos qualquer esforço para avançá-las de fato.
Que a parashá desta semana nos ajude a alinhar nossas ações, nossos anseios e nossas palavras, dando concretude aos valores judaicos que dizemos defender.
Shabat Shalom,
[1] Deut. 16:20
[2[ Por ex.: Deut. 16:18-19; Ex. 23:1-3