quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Reaprendendo a discordar com respeito

(originalmente postado no facebook)

Hoje é 9 de Adar que, segundo nossa tradição, é um dia de jejum. Um daqueles jejuns que quase ninguém observa e do qual muito pouca gente ouviu falar. O motivo do jejum é que Beit Hillel e Beit Shamai discordaram.
Houve uma época em que as disputas entre Beit Hillel e Beit Shamai eram tão civilizadas que se tornaram o paradigma de "machloket le'shem shamayim" (discordâncias por um bom propósito). Foi sobre estes debates que a Voz Divina havia afirmado que AMBAS as escolas de pensamento expressavam as palavras vivas de Deus.

Em 9 de Adar, no entanto, as partes estavam tão convencidas de que elas - e apenas elas - tinham toda a verdade, que a disputa tornou-se violenta e levou à morte de 3.000 alunos. Nossa tradição diz que este evento é tão trágico quanto o bezerro de ouro.
Há alguns anos, o Instituto Pardes de Estudos Judaicos em Jerusalém lançou uma campanha para transformar 9 de Adar no "Dia Judaico pelo Conflito Construtivo." A ideia não é que paremos de discordar (afinal de contas, esta é parte do DNA judaico!) mas que o façamos de formava civil, sem ofensas de nenhum tipo. Discutindo ideias, não atacando pessoas.
Infelizmente, perdemos esta capacidade nos grupos em que eu circulo. As disputas políticas no Brasil, nos Estados Unidos e em Israel nunca foram travadas com tantas ofensas pessoais. Também na comunidade judaica, diferenças de opinião têm levado cada vez mais a ataques ao interlocutor, com adjetivos como "kapo", "traidor" e "fascista" sendo jogados de lado a lado.
Eu estou jejuando, mas só jejuar não vai resolver nada. É preciso que nos esforcemos para mudar a cultura do debate e cada um precisa fazer a sua parte.
AQUI VAI UM DESAFIO: ficar até o entardecer sem praticar "lashon ha'rá", ("o idioma do mal"), o discurso destrutivo que corrói nossa convivência em sociedade. ‪#‎9Adar‬