quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Judaísmo e Poder: uma história ambivalente

(artigo originalmente publicado na Revista Devarim 36, pgs. 53-56)

Com a proximidade das eleições e o acirramento das posições políticas, tanto dentro quanto fora da vida judaica, discussões sobre a representatividade das instituições comunitárias e do relacionamento institucional com as esferas de poder político passaram a pautar, com alguma centralidade, a agenda comunitária. Esta divisão política não é, de forma alguma, uma experiência inédita [1] mas o potencial de amplificação representado pelas redes sociais virtuais tem dado nova dimensão às disputas. Neste sentido, parece necessária a análise do que a tradição judaica tem a dizer sobre o relacionamento com as esferas de poder, sejam eles internos ou externos às instâncias comunitárias e sobre as formas como estes debates são conduzidos.

Uma das passagens mais famosas de Pirkei Avot [2], o tratado da Mishná também conhecido como “Ética dos Pais”, procura caracterizar dois tipos de debates. Discussões produtivas são chamadas de “polêmicas em nome dos céus” (machloket l’shem shamayim) e seus resultados tendem a ser eternos; polêmicas destrutivas, por outro lado, têm impacto limitado no tempo. Como é típico da tradição rabínica, não há no texto uma definição específica do que constitua uma “polêmica em nome dos céus” - temos apenas dois exemplos, dos quais precisamos inferir a definição de cada categoria. O exemplo paradigmático que esta passagem dá para discussões produtivas é Hillel e Shamai, dois sábios que viveram no século I aEC e que são considerados precursores do movimento rabínico que estabeleceria, alguns séculos mais tarde, os parâmetros da vida judaica como a vivemos hoje. Hillel e Shamai discordavam em tudo, mas uma outra passagem da Mishná [3] nos conta que, mesmo assim, havia convívio social respeitoso entre eles, seus seguidores e suas famílias. Em contraponto, o exemplo para discussões destrutivas é a polêmica entre Korach e seus seguidores, que se levantaram em rebelião contra Moshé quando o povo vagava pelo deserto a caminho da Terra de Israel [4]. 

Que características justificam a distinção estabelecida entre as disputas entre Hillel e Shamai, de um lado, e a de Korach e seus seguidores, do outro? De acordo com os comentários tradicionais [5], uma “polêmica em nome dos céus” busca revelar a verdade com relação a um determinado assunto, ao passo que “uma polêmica que não seja em nome dos céus” se preocupa unicamente com o poder e o status conferido pela disputa. Uma análise mais profunda, no entanto, nos revela que a questão é, potencialmente, mais complexa. De um lado, o nome dos filhos de Korach são relembrados em onze salmos [6], indicando a perenidade também de sua memória; de outro, o Talmud revela episódios em que as disputas entre Hillel e Shamai não foram exatamente “amigáveis”, relembrando situações nas quais elas foram resolvidas apenas através da violência [7]. 

Alguns comentaristas apontam para o fato de que a polêmica entre Hillel e Shamai ter se dado entre iguais, ao passo que a disputa entre Korach e Moshé se deu entre alguém que detinha autoridade e alguém que a questionava. Esta leitura aponta a questão da legitimidade das disputas para sua relação com a autoridade estabelecida, em particular quando há uma assimetria de poder entre as partes. A partir dela, temos uma primeira evidência do caráter complexo e multifacetado da relação judaica com o poder estabelecido, especialmente durante os séculos nos quais a vida judaica se desenvolveu quase exclusivamente na Diáspora.

Um lado da questão é revelado por outra passagem de Pirkei Avot: “Tenha cuidado com o governo, pois (seus membros) se aproximam apenas por seus próprios problemas. Eles se apresentam como amigos nos bons tempos, mas não ficam ao seu lado nos tempos difíceis” [8]. A perspectiva de que o governo (na época em que o texto foi escrito, o Império Romano), ainda que se apresente como seu aliado nos tempos de bonança, está defendendo apenas seus próprios interesses, reforça a impressão de uma relação complexa com as autoridades que detêm o poder. 

Por outro lado, um ponto de vista mais positivo com relação à possibilidade de relacionamento construtivo com o poder é revelada em uma história sobre o estabelecimento da academia rabínica em Iavne, a cidade onde se deu a redação da Mishná, a obra na qual Pirkei Avot se insere. Conta a tradição rabínica [9] que, quando Jerusalém estava cercada pelas tropas romanas e os zelotas judeus impediam o estabelecimento de um acordo de paz com os romanos, Raban Iohanan ben Zakai conseguiu escapar da cidade e negociou com o general Vespaziano sua rendição e a de seus discípulos, tendo como contrapartida a garantia para o estabelecimento de Iavne como novo centro da vida intelectual judaica após a destruição de Jerusalém. Neste caso, a intransigência dos zelotas em negociar com o poder romano levou à destruição de Jerusalém, enquanto a disposição de Iohanan ben Zakai garantiu a sobrevivência judaica. A mensagem aqui, ao contrário do texto anterior, parece ser a da possibilidade de interação positiva com o governo.

A verdade é que já em textos bíblicos encontramos ambivalência com relação à proximidade ao poder, especialmente para a vida sob domínio estrangeiro. Nestes casos, a proximidade com o poder significa, simultaneamente, oportunidade e risco. Em Gênesis, temos a história de Iossef, cuja ascensão ao cargo de vice-rei do Egito garantiu suprimento para a família de seu pai quando a seca chegou à região. Quando seus irmãos lhe pedem perdão por tê-lo vendido como escravo anos antes, sua resposta indica que tudo fazia parte do plano Divino, para que ele pudesse estar próximo ao poder do Egito quando a necessidade se apresentasse [10]. No entanto, com relação ao mesmo Egito, temos, no início do livro de Êxodo, a ascensão de um novo faraó que, amedrontado pela presença israelita na terra, decide escravizar os hebreus e exterminá-los [11]. Da mesma forma, a história de Ester, marca o risco e a oportunidade que a comunidade judaica da Diáspora corre ao se aproximar do poder.

Mesmo com relação ao Poder absoluto representado por Deus, a tradição judaica tem sido ambivalente. De um lado, Deus é inquestionável e a devoção incondicional é celebrada em textos e na liturgia. De outro lado, o questionamento de Deus é, paradoxalmente, também valorizado. Avraham, questiona Deus de forma quase agressiva, “o Juiz de toda a Terra não julgará de forma justa?” [12], quando Deus lhe conta Seus planos de destruir Sodoma e Gomorra. Também Moshé, após o episódio do Bezerro de Ouro, questiona os planos Divinos de destruir todo o povo, insinuando que isto daria argumento aos egípcios, que diriam que os Israelitas tinham sido tirados do Egito para serem mortos no deserto e relembra Deus da promessa que havia feito aos patriarcas [13]. A tradição rabínica, provavelmente seguindo estes exemplos, também tem sua dose de chutzpá [14] na relação com a autoridade Divina. Em uma famosa passagem talmúdica [15], Deus tenta interferir em uma discussão na academia rabínica. A resposta dos sábios é clara no sentido de rejeitar a intervenção de Deus: “a Torá não está nos céus”, eles dizem citando um verso bíblico [16], “vocês devem seguir a vontade da maioria” [17], eles complementam citando outro verso. Esta última citação bíblica é especialmente interessante, tendo em vista que ela se estabelece como fonte para a abordagem judaica de decidir questões legais baseadas na vontade da maioria. Seu significado no contexto original não parece, no entanto, justificar esta leitura. O verso bíblico diz: “você não deve seguir rabim para fazer o mal e não dê testemunho em uma disputa para desviá-la de uma forma que a desvie na direção de rabim.” A palavra rabim (רַבִּ֖ים) pode significar “poderosos” ou “maioria”, mas, de qualquer forma, a injunção bíblica parece ser no sentido de não perverter a justiça seguindo a vontade da maioria ou dos poderosos. A interpretação rabínica, no entanto, ao tirar parte da frase do contexto, a estabeleceu como a evidência textual para regra da maioria na tradição judaica. 

Durante os quase dois milênios em que a comunidade judaica viveu quase exclusivamente na Diáspora e na qual a administração interna da comunidade judaica era deixada, na grande maioria dos casos, às suas próprias instituições, o preceito de seguir a maioria guiou, em grande medida, a abordagem judaica para o estabelecimento do seu próprio modelo de poder e governança. A definição do que constituía maioria, no entanto, era questão de debate. O rabino Eliahu Mizrahi, escrevendo na Turquia no final do século XV, expressou uma opinião inclusiva na definição de quem deveria ser contado para a maioria:
“puro e impuro, inocente e culpado…. todos devem ser contados e devem seguir a decisão da maioria, como está escrito na nossa sagrada Torá: ‘você deve decidir de acordo com a maioria’; e aquele que se opuser à maioria é considerado um pecador. Não faz diferença se a maioria é rica ou pobre, de homens sábios ou de pessoas comuns, porque toda a comunidade é considerada um tribunal em assuntos relativos a todos os seus membros.” [18]
Sua opinião, no entanto, não prevaleceu e as autoridades rabínicas medievais redefiniram muitas vezes o conceito de maioria para fortalecer os grupos dominantes – num claro sinal de que o preceito que defendia distância (ou uma postura crítica) com relação aos poderosos não se aplicava quando a liderança rabínica era, ela mesma, o governo judaico. Em alguns casos, os rabinos consideravam apenas os anciãos da cidade para composição da maioria; Rabeinu Asher chegou a propor, no final do século XIII, que apenas a elite econômica devia opinar em questões tributárias. Samuel de Medina de Salônica, defendeu que o voto deveria ser qualificado e que o voto de uma pessoa culta poderia valor o mesmo que o de mil ignorantes: “aceitar a vontade da maioria quando esta maioria é composta por pessoas ignorantes pode levar a uma perversão da justiça”, ele escreveu no século XVI [19].

Com a Hascalá, o Iluminismo Judaico através do qual as populações judaicas europeias foram integradas às sociedades em que viviam, as comunidades judaicas perderam a autonomia que desfrutavam até então, e a questão da relação judaica com o poder passou por nova transformação, focada nas relações institucionais com o governo laico e com quem tem a legitimidade de representar a comunidade judaica nestas relações institucionais. 

Para as comunidades judaicas da Diáspora, esta continua sendo a dinâmica de atuação até hoje. Assim como em tempos medievais, permanece não resolvida a questão de quem deve ter voto na formação da maioria comunitária. Aberta também continua a questão do relacionamento com o governo laico e do grau de proximidade desejável nesta relação. Ainda mais relevante, continua indefinida a questão sobre como a tradição e a história judaicas podem ajudar a pautar os processos de definição destes assuntos e como os valores judaicos podem nos ajudar a encaminhar estas discussões sem destruir a comunidade no processo. 

[1] A começar pela divisão dos dois Reinos em tempos bíblicos, passando pelos grupos judaicos na época do Segundo Templo (fariseus, saduceus, essênios, etc.), pela divisão entre judeus rabínicos e caraítas no século IX, entre místicos e adeptos do racionalismo de Maimônides no séc. XII, pelas profundas disputas entre Chassidicos e seus opositores (Mitnagdim) no sec. XVIII, entre sionistas e bundistas na Europa Oriental na primeira metade do séc. XX, entre idichistas e hebraistas em comunidades judaicas brasileiras no mesmo período, apenas para ficar em alguns exemplos.
[2] Mishná Avot 5:17.
[3] Mishná Ievamot 1:4.
[4] Números 16:1-17:14.
[5] Veja, por exemplo, Bartenura nesta passagem.
[6] Salmos 42, 44–49, 84, 85, 87, 88.
[7] Talmud Ierushalmi Shabat 1:4. Veja também Levine, Lee I. “Jerusalem: Portrait of the City in the Second Temple Period (538 BCE - 70 CE)”, Jewish Publication Society: Philadelphia, 2002, p. 308 para uma validação histórica desta passagem. 
[8] Mishná Avot 2:3.
[9] Talmud Bavli Guitin 56a-b.
[10] Gen. 45:4-9 e 50:19-20.
[11] Ex. 1:8-16.
[12] Gen. 18:25.
[13] Ex. 32:9-14.
[14] Termo em hebraico que pode ter conotações positivas e negativas. Traduções aproximadas incluem “insolência”, “cara de pau”, “iniciativa”.
[15] Talmud Bavli Bava Metzia 59b.
[16] Deut. 30:12.
[17] Ex. 23:2.
[18] Conforme citado em Biale, David. “Power and Powerlessness in Jewish History”, Schocken Books: New York,1986, p. 49.
[19] Biale, p. 50.

domingo, 13 de maio de 2018

Dvar Torá: Shabat da Marcha (ARI)


Tudo neste mundo tem o seu tempo;
cada coisa tem a sua ocasião.
Há tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derrubar e tempo de construir.
Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar;
tempo de chorar e tempo de dançar;
tempo de espalhar pedras e tempo de juntá-las;
tempo de abraçar e tempo de se afastar.
Há tempo de procurar e tempo de perder;
tempo de economizar e tempo de desperdiçar;
tempo de rasgar e tempo de remendar;
tempo de ficar calado e tempo de falar.
Há tempo de amar e tempo de odiar;
tempo de guerra e tempo de paz.
(Kohelet 3:1-8)

As palavras de Kohelet, o livro de Eclesiastes no Tanach, foram incorporadas à filosofia popular. Há algum consolo em saber que, depois da guerra, virá à paz; que depois de coisas serem destruídas, virá a época da reconstrução; que depois de termos economizado por muito tempo, poderemos, finalmente, gastar um pouquinho. Ao mesmo tempo, também nos dá serenidade nos momentos de fartura sabermos que um dia, aquilo que estamos plantando será arrancado; que aquilo que nasce hoje também morrerá. Estas palavras parecem tão óbvias, que acabamos acreditando que a vida se desenrola nestas categorias estanques de alegria e pesar, que se sucedem mas continuam distintas.

No entanto, no mundo em que vivemos, cheio de incertezas e em transição permanente, estas palavras parecem refletir pouco a nossa realidade. Coube ao poeta israelense Iehuda Amihai, a tarefa de estabelecer o contraponto a Kohelet:

Uma pessoa não tem tempo em sua vida
para ter tempo para tudo.
Ela não tem temporadas suficientes para ter
uma temporada para todos os fins.
Kohelet estava errada sobre isso.

Uma pessoa precisa amar e odiar ao mesmo tempo,
rir e chorar com os mesmos olhos,
atirar pedras e recolhê-las com as mesmas mãos,
fazer amor na guerra e guerra no amor.
E odiar e perdoar e lembrar e esquecer,
organizar e confundir, comer e digerir
o que a história
Leva anos e anos para fazer.

Uma pessoa não tem tempo.
Quando ela perde, ela procura; quando ela encontra,
ela esquece; quando ela esquece, ela ama; quando ela ama,
começa a esquecer.

E sua alma é experiente, sua alma
é muito profissional.
Apenas seu corpo permanece para sempre
um amador. Ele tenta e erra
fica confuso, não aprende nada,
bêbado e cego em seus prazeres
e suas dores.

A poesia de Amihai, diferentemente de Eclesiastes, captura outra realidade de nossas vidas, tão cheias de dilemas: quando temos que cuidar das crianças enquanto respondemos no celular o email do trabalho; temos brigas feias com nossos parceiros ao mesmo tempo em que os amamos e desejamos intensamente; somos pessoas inquestionavelmente responsáveis que, uma vez ou outra, agem com pouca reflexão; nos comprometemos com a dimensão judaica das nossas vidas sem abrir mão do nosso profundo comprometimento com o mundo.

Na Marcha Pela Vida endereçamos estas complexidades. Em nossa viagem para a Polônia e para Israel, muitas foram as oportunidades em que sentimos emoções antagônicas e simultâneas, em que conhecemos realidades complexas nas quais as decisões corretas não eram óbvias, em que expressamos compromissos paralelos.

Nos campos de Auschwitz-Birkenau e Majdanek, nos impressionamos com o ar bucólico das fábricas da morte: lugares que assassinaram milhões de seres humanos em ritmo industrial não deveriam poder ser tão calmos, tão cheios de paz; mas eram. Os passarinhos que ciscavam em seus verdes gramados ignoravam o sofrimento escondido naquelas estruturas.  Quem já visitou um campo de concentração sabe como é difícil assimilar esta dualidade entre a calma e o mau absoluto. Conversamos muito à noite com nossos alunos sobre tudo isso, sobre a complexidade das situações às quais eles estavam sendo expostos, dos dilemas que elas continham.

Nossos alunos voltaram da viagem mais maduros, capazes de lidar com os dilemas de suas vidas, ao mesmo tempo em que tentam também compreender os dilemas do outro.

Nossa viagem também teve sua quota de polêmica: ao final da caminhada de 3 km entre Auschwitz e Birkenau realizada anualmente em Iom haShoá, o dia em memória às vítimas do Holocausto, plaquinhas são distribuídas para serem preenchidas e colocadas nos trilhos de trem que levam a Birkenau. Entre as muitas plaquinhas escritas por nosso grupo, uma tinha dizeres lembrando da Marielle, a vereadora do Rio de Janeiro brutalmente assassinada há quase dois meses e afirmando o compromisso em defesa de todas as vidas. Essa foto foi postada nas redes sociais, desacompanhada de maior contexto. Para quem vivencia o dia-a-dia do projeto Marcha Pela Vida, não existia conflito algum naquelas palavras, expressas em um campo de concentração em Iom haShoá. Ao lembrarmos das atrocidades do regime nazista contra os judeus, nos comprometemos com a defesa dos direitos humanos de todos e em qualquer lugar. A frase era o resultado possível de uma perspectiva pedagógica que entende que a educação da Shoá não pode olhar apenas para o passado, precisa também garantir que suas lições sejam efetivamente aprendidas e garantam que o “Nunca Mais” realmente valha. Como Amihai propôs em seu poema, vivemos tudo ao mesmo tempo: afirmávamos a dor pela perda dos seis milhões de judeus, ao mesmo tempo em que nos solidarizávamos, através de um símbolo, com o repúdio à violência humana, sob qualquer forma.

Nos orgulhamos do amadurecimento propiciado pela viagem e amadurecer implica igualmente perceber a realidade sob a perspectiva do outro. Falhamos ao não considerar que a expressão de uma perspectiva desacompanhada de seu contexto poderia causar incômodo e até sofrimento. A imagem exigia que quem a visse completasse o resto da narrativa de um projeto que lida com as complexidades da Shoá com a mesma visão desenvolvida pelo nosso trabalho. Alguns o fizeram e aplaudiram a iniciativa. Muitos outros, no entanto, a interpretaram como um desrespeito à memória do Holocausto ou perceberam na iniciativa um ato de apoio partidário, que desconfiguraria o caráter de Iom haShoá. Queremos reafirmar que a manifestação não teve qualquer caráter político-partidário, muito menos teve o propósito de representar um desrespeito a milhões de vítimas da barbárie e à dor de seus familiares. Ao mesmo tempo em que reafirmamos nosso compromisso com uma educação da Shoá comprometida com a defesa dos direitos humanos de todos e em qualquer lugar, queremos nos desculpar sinceramente àqueles que se sentiram ofendidos, pois jamais houve a intenção de causar qualquer mal aos que, de forma justa, ficaram indignados com o nosso ato.

Nesta viagem à Polônia e a Israel, refletimos e festejamos; nos emocionamos, choramos e pulamos de alegria; visitamos lugares da maior tragédia da história judaica recente  e do renascimento de um Estado judeu. Vivenciando nossa história de perto, exploramos com nossos alunos formas de olhar para o futuro comprometidos com nossos valores e com o nosso passado. Frente a um mundo em permanente transição, nossos alunos se preparam para o processo constante de questionar suas antigas certezas, desafiar seus dogmas sem abrir mão de suas identidades, olhar o mundo com novos olhos, sabendo que têm um porto seguro para retornar.

Shabat Shalom!