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sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Dvar Torá: Desnaturalizando a violência (CIP)


Ontem no almoço, eu estava conversando com meu filho de 10 anos sobre a escola quando eu decidi dar um passo arriscado e perguntar se ele tinha alguma ideia de que profissão ele gostaria de ter. “Como assim, pai?” Ele me perguntou. “Há alguns anos, você queria ser jogador profissional de futebol”, eu respondi. “Esse ainda é o teu sonho? Quem sabe, você queira ser engenheiro, arquiteto, talvez até rabino.” “Rabino, não, né pai?!” ele disparou de cara e continuou “mas você não vai gostar se eu te contar o que eu quero ser quando eu crescer.” Nem precisava… eu já tinha entendido que meu filho quer ser gamer, um jogador profissional de video-games, uma das inúmeras profissões que não só não faziam parte dos meus sonhos, mas nem existiam quando eu tinha a idade dele.

Outra dessas profissões é youtuber, aquela pessoa que ganha dinheiro fazendo vídeos pro YouTube sobre os mais variados assuntos. Pois foi assistindo uma youtuber bem famosa, a JoutJout  do canal JoutJout Prazer, que eu aprendi um pouco mais sobre um livro no qual estava interessado [1]. Casa das Estrelas [2] foi compilado pelo educador colombiano Javier Naranjo a partir de definições que crianças davam para as palavras — definições que, algumas vezes eram fofas ou engraçadas, mas que muitas vezes nos faziam pensar sobre o real significado de palavras e de situações para as quais tínhamos parado de dar atenção. Andrés, um menino de 8 anos, por exemplo, definiu “adulto” como “uma pessoa que, em tudo daquilo que fale, primeiro vem ela.” 

Quando a JoutJout estava fazendo sua resenha do livro, contou que primeiro ficou pensando em como podia ser que uma criança tão nova tivesse escrito aquilo. Em seguida, ela teria pensado “por que uma pessoa de 4 anos não pode pensar em uma coisa interessante? Porque a gente pensa que as pessoas interessantes, que pensam coisas interessantes são adultos já.” Ela contou de uma conversa na qual sua interlocutora dizia que há um ponto de vista que trata “crianças como mini-pessoas, tipo pessoas que ainda não são pessoas, pessoas ainda em formação mas que ainda não chegaram lá no status de pessoas. Uma pessoinha, uma pessoa que ainda não se formou completamente. Mas uma pessoa de 4 anos já é uma pessoa… de 4 anos. E ela tem opiniões… maravilhosas.”

Esta tem sido a perspectiva de Ktanim, o programa de educação judaica desenvolvido pela área de educação infantil da Escola Lafer. Hoje celebramos com seis famílias por alunos que completam neste final de ano um ciclo e se preparam para novos passos no seu contato com o judaísmo. Em Ktanim, as crianças sempre são vistas como pessoas integrais, cujas opiniões e pontos de vista precisam ser escutados e respeitados e com quem aprendemos continuamente. Nossa abordagem é profundamente influenciada pela pedagogia de Janusz Korczak, o pediatra e pedagogo judeu que determinou alguns dos pilares da educação democrática, como a ideia de que crianças não são adultos em miniatura, mas seres-humanos integrais, que assim devem ser reconhecidos e tratados.

Mas a verdade é que muitas vezes conseguimos manter acesa a chama da inocência, da curiosidade e da descoberta que muitas vezes caracterizam a conduta das crianças e abandonamos para sermos reconhecidos como adultos responsáveis, que não fazem perguntas inapropriadas e sabem se comportar como a situação exige. Em Pirkei Avot, um dos primeiros documentos escritos do Judaísmo Rabínico, do começo do 3º século da Era Comum, por exemplo, os rabinos se permitiram fazer um exercício parecido com o do professor Naranjo e redefiniram 4 termos que todo mundo sabe o que quer dizer. Será?!

Para os Rabinos de 1800 anos atrás, “rico” não é quem tem muito, mas quem está feliz com o que tem; “sábio” não é quem tem muito a ensinar, mas quem consegue aprender com todo mundo; “respeitado” não é quem quem recebe honrarias, mas quem respeita a todos; e “herói” não é quem consegue conquistar os outros, mas quem conquista a si mesmo.

Quero parar um pouco na definição de “herói” e pensar com vocês como isso dialoga com os modelos de heróis com os quais vivemos hoje em dia. Por algum tempo, eu não deixei que meu filho, aquele que quer ser gamer quando crescer, assistisse filmes de super-heróis. Apesar de muitas vezes defenderem valores positivos, parece que o recurso a que os super-heróis mais recorrem é a própria violência que eles alegam combater. Eu queria que meu filho entendesse que esse não era o caminho no qual acreditamos, que a violência, quase nunca, leva a uma solução sustentável de qualquer problema. Eu deixei de achar que, sozinho, pudesse ter todo este papel na educação dos meus filhos quando fui buscá-lo na escola e o encontrei brincando de espada usando um balão. Entendi que, em uma cultura na qual a violência é glamourizada e cultuada, o impacto que um pai sozinho poderia ter é bastante limitado.

O que não falta na parashá desta semana é violência. A história começa com Iaacov voltando à terra de seus pais, de onde tinha saído 20 anos antes, morrendo de medo de com qual violência seu irmão, Essav, o receberia. Mas o primeiro embate verdadeiro é entre Iaacóv e o “ish”, a figura que não sabemos bem se é homem ou anjo, com que ele trava um duelo por toda a noite, até o raiar do Sol e da qual sai com a perna machucada. É por essa história que Iaacov e nosso povo receberam o nome de Israel, “aquele que duela com Deus.” Na sequência da parashá, temos a violência sexual contra Diná, a filha de Iaacov e Leá, e a resposta igualmente violenta de Shim’on e Levi, seus irmãos, que mataram todos os homens da cidade.

Lemos estas histórias todos os anos, as contamos sem nos darmos conta da violência que elas contêm e da forma como, ao naturalizá-la, acabamos naturalizando comportamentos violentos em nossas próprias vidas.

Ao comemorarmos cerimônias de bar-mitsvá aqui na sinagoga, não é incomum que os jovens tenham como o principal objetivo de sua presença a oportunidade de arremessar balas com a maior violência possível contra o jovem que comemora sua chegada à maioridade, muitas vezes sob encorajamento dos pais. Antes da pandemia, fui a uma festa com alguns amigos de infância, todos como eu na faixa dos 50 anos, na qual a violência física entre eles era uma forma de expressar camaradagem entre velhos amigos. Chegamos ao caso em que até o carinho expressamos com violência.

Além da violência física, vivenciamos cotidianamente episódios de violência verbal, moral, emocional, seja como perpetrador, como vítima ou como testemunha. Relações de trabalho que se convertem em tóxicas, relações na escola que geram bullying, exclusão, a perpetuação modos tóxicos de relacionamento. Como saímos deste ciclo?

Em Casa das Estrelas, o livro de Javier Naranjo, uma criança de 11 anos define a palavra “criança” como “danificado pela violência” mas outra, de 10 anos, define “amor” como aquilo que “cada coração reúne para dar a alguém.”

Quem sabe, precisemos escutar mais as nossas crianças, entender melhor como nossos atos cotidianos, os filmes que assistimos, as músicas que ouvimos e até as histórias da Torá que contamos sem crítica, ajudam a manter em vigor uma lógica que nos machuca e que machuca a quem mais amamos e que juramos proteger. Que aprendamos com elas como reunir e dar amor em todos os momentos das nossas vidas.
Que este seja um shabat cheio de carinho, de escuta, de atenção e de amor!

Shabat Shalom!


[2] Javier Naranjo, "Casa das estrelas: O universo pelo olhar das crianças", editora Planeta, 2019.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Dvar Torá: Eu sou um Racista em Desconstrução: um pedido de desculpas pra Iaiá (CIP)


Quando eu era pequeno, eu tinha uma babá. O nome dela era Maria, mas eu a chamava de Iaiá e o nome acabou pegando. A foto da qual eu mais me lembro dos meus primeiros anos sou eu aos dois anos dentro do mar, acho que em Santos, o barrigão pra fora, um enorme sorriso malandro no rosto — e a Iaiá no fundo, de vestido, até os joelhos dentro do mar. Nessa idade, eu dividia o quarto com o meu irmão e lá só tinham as nossas duas camas. Quando eu ficava doente, a Iaiá deitava no chão pra me colocar pra dormir e estava lá caso eu chorasse no meio da noite.

Em 1976, quando eu tinha cinco anos, passou na TV um dos maiores ícones da teledramaturgia brasileira. A novela “Escrava Isaura” contava a história de uma escrava por quem o senhor da fazenda se apaixona. Isaura era branca mas todos os outros escravos retratados na trama eram pretos; pretos assim como a Iaiá. Vendo aquela realidade e o que acontecia na minha casa, eu logo entendi qual era a regra do jogo. Fui conversar com a minha mãe e, muito sério, pedi pra ela que, quando chegasse a hora de dar a alforria pra Iaiá, ao invés disso, ela desse a Iaiá pra mim.

Eu conto essa história pra me juntar a uma série de outras figuras que se declararam “racistas em desconstrução”.  Fabio Porchat, um dos criadores da iniciativa escreveu “É chocante e desconfortável, mas é a verdade. É essencial e urgente que eu diga isso antes que mais vidas sejam prejudicadas. Carrego em mim preconceitos estruturais e estou aqui pra dizer que participei dessa construção nociva, e, de forma perigosamente sutil, absorvi e reproduzi o idioma do racismo com fluência. Não sei quantas vezes eu fui tóxico ao longo da vida, mas a partir de agora eu sou um racista  em desconstrução, e começo o trabalho de transformação.” [1]

Eu conto a história da Iaiá com vergonha, mas ciente de que eu preciso assumir minha história se eu quero o direito de sonhar com um país diferente. Eu conto essa história porque, apesar da minha barriga estar perigosamente parecida àquela que eu tinha aos dois anos e de gostar do sorriso malandro na foto, eu não quero mais me reconhecer na conduta daquele menino e para isso é necessário um profundo processo de t’shuvá.

A gente costumar associar t’shuvá às Grandes Festas, mas é um processo que precisa acontecer o ano todo. T’shuvá, que muitas vezes é traduzido por arrependimento, é muito mais do que isso; é um processo sobre o qual a tradição judaica se debruça com especial atenção. Na sua origem, o termo quer dizer “retorno” e representa o nosso esforço para retornarmos à melhor versão de nós mesmos, de corrigirmos nossas ações quando erramos, repararmos os erros que causamos e garantirmos que eles não voltem a acontecer. No começo de todo processo de t’shuvá está o reconhecimento do erro…

Infelizmente, essa talvez seja a parte mais difícil. Eu amava a Iaiá profundamente e o sorriso no meu rosto na foto que eu mencionei evidencia isso. Seria fácil me esconder atrás desse amor e dizer que ela era como se fosse da família, que o meu pedido para minha mãe tinha sido o jeito de uma criança de cinco anos expressar seu amor pela babá. É bem possível que fosse isso mesmo, mas era também resultado do racismo estrutural em que vivemos e no qual eu fui criado, em que aquela moça preta que morava na minha casa era sujeitada constantemente, inclusive por mim e pela minha família, ao preconceito naturalizado pela nossa cultura.

O primeiro passo para reconhecer o erro é parar de dizer que a Iaiá era parte da família, porque ela não era. Quando íamos jantar fora, ela não ia; quando viajávamos, ela só era convidada se fosse para tomar conta de mim; quando eu ia soprar a velinha do bolo de aniversário, ela nunca esteve lá na frente, junto com meu pai e minha mãe. A Iaiá era uma babá querida, cuja subjetividade foi muitas vezes negada, que foi objetificada, mas esses erros nunca foram reconhecidos sob a desculpa de que ela “era quase da família”.

Sim, eu sou um racista em desconstrução, tentando iluminar os aspectos da minha biografia dos quais não me orgulho para poder lidar com eles.

O patriarca Iaacov tem uma história parecida. Seu nome ao nascer, Iaacov, numa tradução livre, quer dizer “enganador”. Iaacov (יעקב) vem de ekev (עקב), “calcanhar”, porque ele nasceu agarrando o calcanhar de seu irmão gêmeo na tentativa de passar na frente na hora do parto e ser o filho primogênito. Iaacov só deu um prato de ensopado de lentilhas para seu irmão faminto quando ele prometeu lhe entregar em troca seu direito à primogenitura; Iaacov enganou seu pai e se fez passar pelo irmão para receber a benção que era destinada ao outro; quando Iaacov sonhou com os anjos subindo e descendo uma escada, ele acordou e tentou fazer uma barganha com Deus: “se Deus estiver comigo e me proteger no caminho por onde eu for, se me der pão para comer e roupas para vestir, se eu voltar são e salvo para a casa do meu pai, então ה׳ será o meu Deus.” [2] Relacionamentos não eram o forte do nosso patriarca e ele avaliava toda pessoa que encontrava de acordo com a utilidade que tinha para seu plano. 

Depois de passar 20 anos fugindo da ira do seu irmão, Iaacov resolveu enfrentar seus erros e voltar para a terra dos seus pais. Seu amadurecimento parece evidente na forma como ele fala com Deus no comecinho da nossa parashá: 

קָטֹנְתִּי מִכֹּל הַחֲסָדִים וּמִכָּל־הָאֱמֶת אֲשֶׁר עָשִׂיתָ אֶת־עַבְדֶּךָ 
כִּי בְמַקְלִי עָבַרְתִּי אֶת־הַיַּרְדֵּן הַזֶּה
וְעַתָּה הָיִיתִי לִשְׁנֵי מַחֲנוֹת׃
Eu não mereço os favores nem a bondade com que Você tratou teu servo. 
Quando atravessei este Jordão, eu tinha apenas um bastão, 
agora possuo dois acampamentos. [3]

O processo de amadurecimento de Iaacov é endereçado de forma mais enigmática alguns parágrafos depois. Iaacov está sozinho ao lado de um rio quando um homem aparece e os dois brigam durante toda a noite. Quando o Sol começa a nascer, Iaacov pede uma benção ao sujeito, que vem na forma de uma troca de nome. “Seu nome não será mais Iaacov, mas Israel, pois você lutou com Deus e com homens e prevalesceu.” Mesmo tendo sobrevivido, Iaacov saiu desta luta machucado na perna e passou a andar mancando a partir de então. [4]

A tradição tem tentado há séculos encontrar algum sentido nessa história. Alguns comentaristas acreditaram que Iaacov lutou com o anjo da guarda de Essav, seu irmão [5]. Outros, optaram por analisar o texto como se fosse um sonho, usando uma abordagem psicanalítica. Nesta visão, o oponente é simultaneamente Essav, Itzchak e Deus, pessoas que Iaacov feriu durante sua vida e com as quais ele se reconcilia por meio da interação com o “homem” [6].

Em um texto que eu escrevi no primeiro ano da minha educação rabínica, eu disse o seguinte: 

É lá, nas margens do Iabok, que ele viu Deus face a face. Ele vê a pessoa que se tornou, o trapaceiro, o enganador, alguém que não consegue desenvolver relacionamentos com as pessoas ao seu redor e que está sempre fugindo em vez de enfrentar seus problemas. Ele sonha com um homem, que é simultaneamente um anjo, Deus e o próprio Iaacov. Ele vê um Deus que “forma a luz e cria as trevas, [que] faz a paz e cria o mal” [7]. Ele finalmente entende seu papel, a responsabilidade de escolher entre o certo e o errado. É um processo doloroso, pois Iaacov tem que reconhecer todos os erros que cometeu. Ao amanhecer, uma parte dele quer acordar desse sonho, juntar-se à sua família e seguir com a vida, mas Iaacov resiste à tentação e continua lutando consigo mesmo neste processo de busca da alma, até sentir que vale a pena as bênçãos que ele recebeu. Em algum momento, o “homem” pergunta seu nome e, chorando, ele responde “Iaacov, o enganador”, e a resposta é “você não precisa mais ser um enganador; seu nome será Israel, porque você lutou com Deus e consigo mesmo e se tornou uma pessoa melhor. ” Intrigado, Iaacov pergunta “e quem é você, para mudar meu nome?”, “Você não precisa perguntar, você sabe quem eu sou” foi a resposta. Iaacov reconheceu a natureza transformadora da experiência que teve nas margens do Iabok e chamou o lugar de Peniel, porque lá, pela primeira vez, ele teve a coragem de se olhar no espelho e, ao fazer isso, viu a face de Deus.

Mas Iaacov não se tornou uma pessoa perfeita depois daquele dia. Seu mancar o lembrou de que somos todos seres humanos e todos temos fracassos, mas precisamos tentar se quisermos melhorar. Quando o sol nasceu, terminou uma longa noite na vida de Iaacov.

Nos últimos meses, todos temos tido a chance de nos olharmos no espelho e o resultado nem sempre é satisfatório. Individualmente e como sociedade, temos visto muitas mazelas na imagem que reflete quem somos. A questão da injustiça racial tem gritado especialmente alto para mim. O assassinato do João Alberto Silveira Freitas no Carrefour em Porto Alegre foi só a ponta de um iceberg gigantesco. Pior: não fomos para as ruas, não interrompemos nossas rotinas. Alguns de nós pararam de comprar no Carrefour, como se isso fosse corrigir a profunda desigualdade racial em que vivemos e continuamos com nossas vidas.

Eu sei que eu já falei de racismo há seis meses, quando George Floyd foi assassinado por um policial nos Estados Unidos — mas não dá pra marcar essa caixinha como endereçada e continuar com as nossas vidas como se uma prédica tivesse cumprido sua função. Palavras são só palavras e é nas nossas ações que esta questão será decidida: nas nossas condutas pessoais e nas políticas comunitárias que resolvermos implementar. Que ações vamos tomar para diminuir o racismo na nossa comunidade? Na nossa cidade? No nosso país?

Outro dia alguém perguntou como se chama alguém sentado a uma mesa com vários nazistas, onde os comentários antissemitas correm soltos sem serem contestados. “Nazista” é o nome que se dá a uma pessoa assim, foi a resposta. De forma similar, não podemos permanecer passivos quando comentários racistas são feitos na nossa frente ou nas nossas instituições — se não formos ativamente antiracistas, então estaremos sendo coniventes com a propagação do ódio, estaremos sendo racistas também.

O conflito de Iaacov, que na minha leitura representa seu primeiro encontro verdadeiro consigo mesmo, o deixou marcado pelo resto da vida. O encontro não foi fácil e deixou sequelas — re-examinar nossas condutas tampouco é agradável mas é a única alternativa viável para crescermos como indivíduos e como sociedade. Que este seja o nosso caminho….

Shabat Shalom!


[1] https://blogs.ne10.uol.com.br/social1/2020/08/08/fabio-porchat-cria-campanha-sou-um-racista-em-desconstrucao/
[2] Gen. 28:20-21
[3] Gen 32:11
[4] Gen. 32:23-33.
[5] Por exemplo, Rashi e Nehama Leibowitz (1972). Studies in the Book of Genesis: In the Context of Ancient and Modern Jewish Bible Commentary (A. Newman, Trans.). Jerusalem: World Zionist Organization, Department for Torah Education and Culture, p. 72.
[6] Vonck, P. (1984). The crippling victory: The story of Jacob’s struggle at the river Jabbok (Genesis 32:23-33). African Ecclesial Review, 23, p. 75-87. 
[7] Isaías 45:7


A violência contra a mulher e o silenciar das vítimas

Nos últimos tempos, tem estado em moda a discussão de quem pode falar pelos marginalizados. Será que só judeus podem falar sobre a Shoá? Que só negros podem falar de racismo estrututal, que pessoas fora do universo LGBT+ não podem se manifestar por uma sociedade mais inclusiva?! Pessoalmente, eu acho que quanto mais vozes se juntarem pela construção de uma sociedade mais inclusiva e que valorize sua diversidade, melhor estaremos — mas há algo realmente estranho quando os segmentos oprimidos são excluídos da discussão sobre sua própria opressão. Imaginem uma conferência para discutir antissemitismo da qual judeus não façam parte; imaginem uma mesa redonda para falar de racismo em um canal de TV a cabo da qual não participe nenhum jornalista negro…

A parashá desta semana, Vaishlach, traz dois episódios de violência contra mulheres: no primeiro deles, Shchem, um morador da terra de Cnaán, violenta Diná, filha de Iaacóv [1]; no segundo, Reuben, filho de Iaacov, se deita com Bilá, sua madrasta [2]. Nos dois episódios não escutamos as vozes das mulheres: sabemos do vexame que esses atos trouxeram aos parentes homens da vítimas, como suas honras foram afetadas, que atos eles cometeram como vingança —  mas não sabemos como Diná e Bilá se sentiram, nunca ouvimos como elas fizeram para se recuperar do trauma da violência que havia sido cometida contra elas, como continuaram vivendo depois desses atos. Infelizmente, nas páginas da Torá Bilá e Diná são simplesmente objetos, suas subjetividades não foram reconhecidas.

Nas milhares de páginas de comentários escritos pela tradição rabínica, Diná e Bilá tampouco receberam direito à fala. Vários midrashim [3] colocam a culpa em Diná pela violência que foi cometida contra ela. Como é comum ainda hoje, esses midrashim culpam a vítima por ter se exposto e provocado a atenção de um homem. Outros comentários analisam os interesses estratégicos de Iaacov, dos seus filhos homens, de Reuven, de Shchem e seus compatriotas — os rabinos da nossa tradição, todos homens, se preocuparam com as motivações dos outros homens da história mas mantiveram as mulheres silenciadas.

Nas últimas décadas, o aumento de mulheres comentaristas da Torá e ordenação de mulheres rabinas têm ajudado a apontar para esse silenciamento e romper com ele. A rabina Lia Bass, a primeira brasileira a receber esse título, escreve a respeito da falta de perspectivas femininas: “nenhum dos comentaristas trata diretamente de Bilá. O foco deles é condenar Reuven por ter dormido com a concubina do seu pai; em outras palavras, por ter utilizado a propriedade do seu pai.” [4] A rabina Rachel Barenblatt escreve que “ao longo dessa narrativa, Diná não fala nem uma vez. Sua voz está totalmente ausente do fogo preto de nosso texto. Para ouvir a voz de Diná, olhamos para o fogo branco.” Ela está se referindo aos midrashim que, no entanto, em geral também não deram voz a Diná. A rabina Barenblat cita alguns midrashim de acordo com os quais “Diná se torna a esposa de Jó, o que é considerado uma punição para Iaacov” e elabora: “a forma como o sofrimento subsequente de Diná é visto como uma punição para seu pai, mas não para ela, é um sinal da sua invisibilidade na sua própria história.” [5]

Até hoje, a prática de silenciar mulheres vítimas de violência continua, assim como os questionamentos sobre quais práticas delas contribuíram para o ataque. Casos recentes têm explicitado como nosso sistema judicial está mal equipado para tratar do tema. [6] O silêncio das mulheres da parashá desta semana deve nos servir como alerta de que a violência nunca pode ser contabilizada na conta da vítima, que ainda sofre nova violência quando é objetificada e sua dor tratada como uma extensão do dano à honra masculina. 

A rabina Laura Geller pergunta: “o que acontece com Diná após o episódio? Nós não sabemos. Nunca ouvimos falar dela, como nunca podemos ouvir das mulheres da nossa geração que são vítimas de violência e cujas vozes não são ouvidas.” [7] Temos falhado nesse sentido, a ponto de, como diz Andrea Kulikovsky, alguma forma de violência sexual atingir todas as mulheres hoje em dia. [8]

Por cada uma de nós, por cada um de nós, precisamos fazer mais para acolher e dar voz às mulheres, para educar os homens, para romper com esse modelo tóxico de sexualidade e poder. Precisamos fazer muito mais.

Shabat Shalom.



[1] Gen. 34:1-31
[2] Gen. 25:22a
[3] Veja, por exemplo, Bereshit Rabá 80:1-5, Tanchuma Vaishlach 5.
[4] “The Women’s Torah Commentary”, Rabina Elyse Goldstein (ed.), p. 86.
[5] https://velveteenrabbi.blogs.com/blog/2013/11/on-dinah.html
[6] https://www1.folha.uol.com.br/.../o-que-ataque-a-mariana...
[7] https://www.myjewishlearning.com/article/comforting-dina/
[8] https://www.facebook.com/MulheresnaTora/posts/257348998275391



sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Dvar Torá: Violência contra as mulheres – um problema dos homens! (CIP)

Há pouco mais de 20 anos, a escritora judia norte-americana Anita Diamant publicava a primeira edição de “A Tenda Vermelha”, na qual retratava a vida das mulheres nos tempos bíblicos, em especial na geração de Lea, Rachel, Bilá, Zilpá e suas filhas. Inicialmente, apesar de a autora ir a todos os círculos de leitura que ela conseguia, o livro não teve sucesso e ela precisou de um plano para evitar que as cópias já impressas do livro fossem recolhidas e destruídas pela editora, que achou que elas nunca seriam vendidas. Seu plano envolveu enviar cópias para a Rede de Mulheres Rabinas do movimento Reformista e para a Associação Rabínica Reconstrucionista, além de angariar o apoio de pequenas livrarias locais. Desta forma, o livro cresceu em popularidade e chegou à lista dos mais vendidos no New York Times [1]. Hoje, transformada em uma minisérie de dois capítulos, a história pode ser assistida no Netflix [2].

O que fez dessa história um sucesso tão grande? Ela deu às mulheres das narrativas bíblicas uma voz e um ponto de vista. Sabemos muito sobre os personagens masculinos das histórias do Tanach; sabemos muito menos a respeito das personagens femininas. Aqui está um exemplo: conhecemos o nome de 12 filhos do patriarca Yaacov: Reuven, Shim’on, Levi, Iehudá, Dan, Naftali, Gad, Asher, Issachar, Zevulun, Iossef, and Biniamin — além do número, eles dão nome às tribos do povo de Israel e, por isso, são relembrados constantemente. Há apenas uma filha de Yaacóv cujo nome é mencionado,  Diná, que não tem uma tribo que receba seu nome. A esse respeito, Shadal, o rabino Shmuel David Luzato, que viveu no começo do século 19, disse que era muito improvável que Yaacóv tivesse tido 12 filhos e apenas uma filha e que o nome de Diná só tinha sido mencionado por um episódio que aconteceu com ela (e sobre o qual já vamos falar) — e ele completa: “em todo lugar na história das nossas gerações, são mencionados apenas os homens e as mulheres que tiverem algum evento particular significativo ou que eram famosas por algum motivo” [3]. Pois é, quase que por regra, a história das nossas matriarcas não foi registrada.

A este respeito, minha professora Merle Feld escreveu o seguinte poema:
Todos estivemos juntos 
Meu irmão e eu estivemos no Sinai
Ele tinha um diário
do que ele via
do que ele ouvia
de tudo o que aquilo significava para ele
Eu queria ter um registro assim
do que aconteceu comigo
Parece que toda vez que eu quero escrever
Eu não posso
Estou sempre segurando um bebê
um meu
ou um de uma amiga
sempre segurando um bebê
então minhas mãos nunca estão livres
para escrever coisas
E então
conforme o tempo passa
os detalhes
a informação
de quem o que quando onde porquê
foge de mim
e tudo que me sobra é
o sentimento
Mas sentimentos são apenas sons
As vogais latindo do silêncio
Meu irmão tem tanta certeza do que escutou
afinal, ele tem o registro
consoante após consoante após consoante
Se nós lembrássemos juntos
poderíamos recriar tempo sagrado
fagulhas voando. [4]
Por isso, Anita Diamant tentou recriar este tempo sagrado, escrevendo uma história com a perspectiva das mulheres bíblicas. No centro da história que ela conta está uma passagem da nossa parashá — o tal episódio que aconteceu com Diná. Diz a Torá, em tradução minha:
“Diná, filha de Lea, que tinha dado a luz a Yaacov, saiu para ver as mulheres do local. Shchem ben Chamor, o chivita, o príncipe do local, a viu e a tomou e a violentou com força.” [5]
O texto continua, dando mais detalhes sobre a história: Shchem se apaixona e tenta se casar com Diná e seu povo acaba sofrendo um massacre pelas mãos de Shim’on e Levi. O que falta no texto bíblico é a voz de quem sofreu esta violência. Não sabemos o que se passou com Diná: o que ela sentiu, com quem falou ou no ombro de quem foi chorar. 

A resposta de Yaacov e de seus filhos se preocupa com a honra deles, ninguém fala do que aconteceu com ela! Por isso, Anita Diamant escreveu seu livro e deu voz e opinião às mulheres da história — e, para ser justo, eu adianto que Anita Diamant tem uma leitura totalmente diferente desse episódio.

Esse não é o único caso de violência sexual dessa parashá. No final do capítulo seguinte [6], ficamos sabemos que Reuven, o primogênito de Yaacov, violentou Bilá, a concubina do seu pai. Aqui, eu sigo a leitura de Lia Bass, a primeira brasileira a receber o título de rabina. Ela nota uma questão gramatical: a preposição “et” usada depois do verbo “lishcav, se deitar”  indica o uso de força no ato sexual e aparece apenas três vezes no Tanach, na história de Diná, na história de Reuven e Bilá e na história de Amon e Tamar. Nas palavras da rabina Lia:
Nestas três situações, fica claro que a motivação para o estupro não é o desejo. A questão é o poder, como aprendemos nos nosso tempo. O estupro é um ato violento, um ato de estabelecimento de autoridade e poder através do medo (…) Esta é uma mensagem tão relevante hoje quanto era séculos atrás, pois homens continuam usando e abusando de mulheres como peões em seus jogos de poder.  [7]
Precisamos falar da violência contra as mulheres! Um levantamento do Ministério da Saúde indica que, no Brasil, uma mulher é vítima de violência a cada 4 minutos [8]. Nos quinze minutos que esta prédica deve demorar,  quatro mulheres com nome, com uma história de vida, com sentimentos e dores e desejos e sonhos que terão sofrido algum tipo de violência. Como estima-se que menos de metade das mulheres denunciam essas agressões [9], é possível que neste tempo tenham sido oito ou mais as mulheres que sofreram violência.

Precisamos falar da violência contra as mulheres!

Nossa autopercepção judaica é que esse não é um problema nosso. Judeus não fazem essas coisas…. ainda bem que o Grupo de Empoderamento e Liderança Feminina da Fisesp pensa diferente [10]! Eles criaram uma Central de Acolhimento à Mulher e uma campanha para a denúncia de casos de violência contra a mulher, sob o lema “Violência Doméstica também é um assunto judaico. Use sua voz” e eles alertam: “Agressão verbal, humilhação, intimidação, isolamento e ameaças também são formas de violência.”

O projeto oferece o apoio de psicólogas, psiquiatras, advogadas para ouvir as histórias, dar acolhimento e oferecer apoio a mulheres que estão sofrendo estas agressões. Além da Fisesp, uma rede comunitária de apoio está se empenhando neste projeto — a CIP, por exemplo, tem ajudado dando orientação ao trabalho para mulheres que, ao saírem de casa, precisam desenvolver sua independência financeira.

Eu conversei com nossa querida Miriam Vasserman, Diretora do Grupo de Empoderamento e Liderança Feminina, que me pediu para não divulgar os números de pessoas atendidas, mas eles me deixaram de cabelo em pé. Ela destacou que muitas dessas mulheres não sabem que estão sendo vítimas de violência, acham que seus namorados ou maridos são apenas ciumentos e acreditam na narrativa de que são elas as verdadeiras culpadas, por causa do comprimento da saia, por causa da maquiagem, pela forma como conversaram com um colega.  
Vamos deixar bem claro: violência é inaceitável e a culpa é sempre do agressor. Toda mulher precisa saber disso, toda menina precisa ser educada sabendo disso. A culpa é sempre do agressor!
Eu sou filho de uma mulher, pai de uma menina e, por isso, esse assunto é pessoal para mim. Esse assunto também é pessoal para mim porque eu eu sou homem, pai de um menino, porque eu sou filho de um homem. Não existe solução para esta questão que não envolva mudanças de atitude em nós, homens.
Mudanças nas piadas, mudanças nos comentários, mudanças profundas nas visões de mundo nas quais fomos criados e que não são mais adequadas para a época em que vivemos. 

Somos grande parte do problema e, enquanto não reconhecermos este fato, teremos que continuar lidando com a triste realidade de quase uma dezena de mulheres sofrendo violência no tempo que eu demoro para ler uma prédica. Podia ser a minha filha, ou a tua, podia ser tua dentista, a engenheira da obra ou tua melhor amiga — ou podia ser eu o agressor, podia ser o teu médico ou o teu advogado. 

Uma mulher a cada quatro minutos. Não dá pra achar que o problema vai se resolver sozinho ou sem mudanças profundas, que são sempre difíceis.

Em outra passagem desta parashá, Yaakov fica sozinho na margem do rio e tem um duelo misterioso durante a noite, que o deixa ferido para o resto da vida. Alguns comentaristas interpretam que ele se encontra consigo mesmo e que este encontro no espelho, confrontando suas próprias falhas, olhando pra dentro de si mesmo como nunca tinha feito antes, o deixa profundamente marcado. Deste encontro, ele ganha o nome Israel, aquele que enfrentou Deus e humanos e prevaleceu.

Esta é nossa hora: temos que nos olhar no espelho e reconhecer nossas verdades mais escondidas, nossa responsabilidade em acabar com a vergonha que são as práticas de violência contra a mulher em nosso país e em nossa comunidade. As mulheres já deram o primeiro passo, agora é a hora de nós, homens, fazermos a nossa parte.

Shabat Shalom!

[3] Comentário de Shadal para Gen. 37:35, no qual fala-se em :"filhos e filhas de Iaacov" (no plural para os dois gêneros
[4] Merle Feld, “We All Stood Together”, A Spiritual Life, p. 205. Tradução minha.
[5] Gen. 34:1-2
[6] Gen. 35:22
[7] Rabbi Lia Bass, “No Means No”, in Rabbi Elyse Goldstein (Ed.) The Women’s Torah Commentary, p. 85. Tradução minha.

Saindo das nossas bolhas de ressonância

Em épocas de divisões ideológicas profundas como estamos vivendo hoje, não é incomum que a maioria das nossas discussões se transformem em Fla-Flu, nos quais defendemos as posições daqueles com quem nos identificamos, sem ao menos considerar os argumentos que são efetivamente levantados. Nas potentes caixas de ressonância das redes sociais, as posições que defendemos servem de distintivo que marcam nosso pertencimento a este ou a aquele grupo. A velha piada sobre o judeu náufrago que constrói duas sinagogas na ilha em que vive sozinho, “em uma, eu rezo diariamente; na outra, eu nem passo na frente!”, passou a refletir partes crescentes das nossas posições.

Na parashá desta semana, Vaishlách, os irmãos Iaacóv e Essáv se reencontram depois de ficarem separados por vinte anos. Esse momento é cercado de tensão, pois Iaacóv tinha fugido da terra de Cnaán depois de trapacear seu irmão pela benção de seu pai e Essáv ter jurado matá-lo. Ao se aproximar da terra em que seus pais viviam, Iaacóv manda mensageiros com mensagens de paz e, quando ele descobre que seu irmão está vindo em sua direção na companhia de 400 homens, ele entra em pânico e desenvolve uma estratégia quase-militar, dividindo seu grupo em dois (para facilitar a fuga) e enviando presentes que adoçassem o coração do seu irmão.

O encontro foi exatamente o oposto do que Iaacóv temia. Essáv abraçou-o e beijou-o e, juntos, os dois irmãos choraram. Essáv propõe que os dois caminhem juntos, uma tentativa de reconstruir a relação fraternal que havia se perdido. Iaacóv recusa: ele deseja paz, mas não proximidade.

Para os comentaristas clássicos, as intenções de Essáv são, necessariamente, as piores possíveis -- o grande debate é se Iaacóv agiu de forma correta ao enviar presentes e tentar, assim, apaziguar a ira do malvado Essáv. A associação entre Essáv (também chamado de Edom, ou “vermelho”) e o Império Romano (que tinha no vermelho a sua cor) restringiam a possibilidade de que nossos rabinos, que viviam sob opressão do império, tivessem uma leitura generosa do irmão do nosso patriarca. No entanto, ao ler o texto da Torá, eu não encontro nada que desabone a conduta de Essáv. Se a beleza está no olhar de quem a enxerga, a percepção de que Essáv tinha más intenções também depende menos de suas ações do que de quem as observa. A verdade é que a opinião rabínica a respeito de Essáv tem muito pouco a ver com o que ele faz e muito a ver com o fato de que ele é o antagonista do nosso patriarca - não muito diferente da conduta que verificamos nas redes sociais de hoje.

Essa semana, escutei em um podcast sobre os campos de detenção para uma minoria muçulmana na China, os Uighur [1]. Mais de um milhão de pessoas já foram detidas e, de acordo com algumas fontes, submetidas a processos de lavagem cerebral que buscam convencê-los a abandonar suas crenças religiosas [2], além de outros tipos de violência.

O povo judeu, ao longo de sua história, vivenciou inúmeros episódios em que fomos atacados e massacrados pelo único motivo de termos nossas crenças e práticas religiosas; episódios nos quais o silêncio do mundo, não apenas nos ofendeu profundamente, mas também custou milhões de vidas judias. A tradição judaica ensina que devemos aprender dos episódios de opressão que vivenciamos para que protejamos aqueles que passam por situações semelhantes nos dias de hoje, sem deixar que nossos preconceitos contra qualquer grupo nos impeça de identificar a injustiça onde quer que ela ocorra. Nesse sentido, é nossa obrigação judaica nos solidarizarmos com os Uighur na China e não economizarmos esforços para interromper o brutal assalto do qual eles estão sendo vítimas.

Que nesse Shabat possamos superar a estreiteza das nossas posições habituais e estarmos abertos para desenvolver empatia pela situação dos aflitos, mesmo aqueles que não fazem parte do nosso círculo tradicional de aliados.

Shabat Shalom,