quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Guardiões de toda vida

Cada profissão tem seu conjunto de expressões técnicas que ajudam a definir quem detém aquele conhecimento profissional e quem não. Algumas vezes, por trás de expressões complicadas estão conceitos igualmente complexos — por não ser médico, eu nunca consegui entender direito o que é acalasia ou disdiadococinesia; outras vezes, no entanto, estas expressões técnicas são muito mais complicadas do que os conceitos que elas representam. Tomemos um exemplo da economia: por trás da nebulosa expressão “utilidade marginal decrescente” se esconde o conhecido fenômeno que, quanto mais temos de uma coisa, menos prazer tiramos de ganhar uma nova unidade da mesma coisa. É um conceito sabido que se aplica a vários aspectos das nossas vidas: imagine a alegria de ganhar o novo biquíni que você tanto quer; agora, imagine ganhar o 21º biquini do mesmo modelo! Imagine como, depois de ficar tanto tempo sem poder viajar, anseia por conhecer lugares longínquos e misteriosos; agora, imagine a vontade de dormir na tua própria cama depois de ficar uma longa temporada fora de casa.

O mesmo conceito da “utilidade marginal decrescente” pode ser aplicado ao inverso, significando que nos acostumamos também com coisas ruins e passamos a não nos importarmos tanto quando elas acontecem. Você se lembra do que aconteceu quando chegamos à terrível marca de dez mil mortos por Covid no Brasil? Era postagem no facebook, comentário no Jornal Nacional e inúmeras colunas de articulistas dos jornais. Agora tente se lembrar do que aconteceu quando o número de mortos passou de 580 mil para 590 mil… não aconteceu nada. Nem uma manchete, nem um comentário… Nos acostumamos com o fato de centenas de milhares de pessoas morrerem por esta terrível doença e não nos chocamos mais quando os números confirmam a realidade com a qual já estamos acostumados.

O mesmo vale para outros tipos de mortes. Em 2020, foram assassinadas no Brasil 50.033 pessoas [1], praticamente um a cada 10 minutos. Toda hora, todo dia. Com taxas assim, não é de se espantar que tenhamos perdido a sensibilidade para cada novo assassinato que acontece.

Na parashá desta semana, Bereshit, temos o primeiro assassinato da história [2]. Caim, enciumado pela atenção que Deus havia dado a seu irmão, Abel, o assassina em um ataque de raiva. Quando Deus lhe pergunta: “Onde está Abel, teu irmão”, sua resposta deve nos servir de alerta contra insensibilidade  gerada pela sequência de notícias ruins: “Eu não sei. [Por acaso] eu sou o guardião do meu irmão?!”

Em que situações nos consideramos guardiões dos nossos irmãos? Quando sentimos que somos todos co-responsáveis uns pelos outros? A construção de uma sociedade inclusiva e justa parece depender de sentimentos assim, que garantam que o bem estar de todos sejam uma preocupação coletiva. No entanto, nas sociedades urbanas e despersonalizadas em que vivemos, os laços sociais que garantiriam este tipo de conduta estão tão fragilizados que perdemos a capacidade de nos entristecermos a cada dez minutos por mais um assassinato. 

E, assim, sem que ninguém se importe, viramos estatística, viramos números, e nos adequamos à regra do “rendimento marginal decrescente”.

Que neste novo ciclo de leitura da Torá possamos quebrar este ciclo vicioso, que possamos nos importar sem ter nossos corações esfacelados pela dor, que nos consideremos guardiões uns dos outros e nos comprometamos a criar a sociedade justa com a qual sonhamos.

Shabat Shalom,


[1] https://bit.ly/2WtNj83

[2] Gen. 4:1-16



sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Dvar Torá: Expandido nossa perspectiva da Torá (CIP)


Quando eu morava em Israel, e lá se vão mais de 20 anos, havia um jogo mental que os israelenses gostavam de jogar: dividir qualquer coisa em três partes. Esta cerimônia de Cabalat Shabat, por exemplo: tem as rezas que vem antes da prédica, a própria prédica e a conclusão do serviço após a prédica. A nossa sucá, onde em breve o Schinazi fará o kidush, pode ser dividida na base, o schach, sua cobertura, e a decoração. Uma bola de futebol pode ser dividida na superfície interna, a superfície externa e o ar interior. Esta ideia de dividir coisas em um número fixo de partes é tão divertida quando superficial em suas análises.

Mas vamos tentar mais uma vez: quando éramos colegas de classe no seminário rabínico, um amigo querido, o rabino Dan Mikelberg, dizia que havia dois tipos de judeus: o que comemoram Sucot e os que não comemoram Sucot. A ideia dele é que Sucot é das poucas festas judaicas que não falam de perseguição, em que os judeus não são vítimas. É uma festa na qual uma das obrigações religiosas é nos alegrarmos, é passarmos este tempo felizes, buscando formas divertidas de nos engajarmos com a tradição judaica. E, mesmo assim, a verdade é que muitos de nós estaríamos no grupo de judeus que não comemora Sucot.  Por que será?

Temos alguns bons motivos para dar como desculpa: a overdose de judaísmo em Rosh haShaná e Iom Kipur nos deixou sem forças para mais uma maratona de 9 dias de feriados judaicos, se incluirmos Shmini Atseret e Simchát Torá; não temos área em casa ou no prédio onde possamos construir uma sucá; faz frio, chove, quem de verdade é maluco de fazer suas refeições em uma cabana em que o telhado deixa passar água em pleno início de primavera em São Paulo?!?!

A verdade é que apesar de todas boas, estas são DESCULPAS que não explicam realmente porque Sucot não se tornou um campeão de audiências como Rosh haShaná, Iom Kipur, Pessach e até mesmo o serviço semanal de Cabalat Shabat.

Eu queria começar a pensar nesse assunto vindo da direção oposta: que papel você diria que o judaísmo tem na sua vida? Dito de outra forma: quando o serviço de Cabalat Shabat termina e você desliga a transmissão (ou vai pra casa se vc estiver aqui na sinagoga), o judaísmo continua atuando como uma fonte permanente de práticas, valores e abordagens ou fica adormecido até a 6a feira seguinte, quando volta a ser relevante na tua vida?

Eu costumo dizer que a educação judaica que eu recebi nos anos 70 e 80 me mostraram uma frestinha do judaísmo, uma pequena fração que me foi apresentada como se fosse o todo. Apresentado àquela versão limitada da cultura judaica, na qual eu não conseguia verdadeiramente me enxergar, minha resposta foi não dar papel algum ao judaísmo — não nos alimentos que eu comia, não nas roupas que eu vestia, não nos valores pelos quais eu vivia, não nos assuntos que eu decidia estudar ou nas causas para as quais eu me voluntariava.

Muitos anos depois, vivendo em Israel, eu descobri que a frestinha que tinham me apresentado não era o judaísmo inteiro!!! Havia um mar inteiro além daquela fresta, um universo no qual eu passei a me deliciar, a me enxergar e encontrar relevância nos mais amplos aspectos da minha vida. Foi neste segundo momento em que eu consegui enxergar em Sucot oportunidades de conexões — oportunidades de pensar nas formas em que  minha vida é cheia de vulnerabilidades (como a Sucá que é instável e vulnerável); na responsabilidade que eu tenho para com quem vive em situação de profunda vulnerabilidade o ano inteiro; no desafio de encontrarmos forças para nos alegrarmos vivendo em um mundo frágil e quebrado.

Muitos de nós, educados em um judaísmo limitado, adoramos falar em  uma vida guiada por “valores judaicos” sem sermos capazes de encher os dedos das duas mãos com quais seriam estes valores. Vivemos uma crise no relacionamento com o judaísmo, incapazes de darmos os passos necessários para superá-la.

Na parashá desta semana, temos algumas das cenas mais íntimas da Torá. Abalados pelo episódio do Bezerro de Ouro, Deus e Moshé buscam a reconciliação. Animado pela intimidade da conversa, Moshé pede a Deus que lhe mostre Sua face. Deus nega o pedido, mas diz a Moshé que passará na sua frente enquanto cobria os olhos de Moshé; depois de passar, Deus permitirá a Moshé enxergar novamente para que possa ver suas costas. [1]

Entenda esta passagem de forma literal ou de forma metafórica, mas a intimidade é incontestável. Deus ainda propõe a Moshé que esculpa duas novas Tábuas da Lei para o projeto conjunto humano-Divino de restituir as tábuas que Moshé havia quebrado.

Será que na nossa própria relação com Deus e com a tradição judaica é possível atingirmos um novo momento de intimidade e reconciliação como esta sobre a qual leremos amanhã?

Daqui a alguns dias, em Simchat Torá, terminaremos de ler a Torá com parashat veZot haBrachá. Nela, no começo de um poema-benção que Moshé dedica aos hebreus, ele afirma: “תורה ציוה לנו משה, מורשה קהילת יעקב”, “Moshé nos ordenou a Torá, uma herança para a comunidade de Iaacov”. [2].

Os comentaristas, ao longo do século discutiram qual o papel desta “Torá” que Moshé nos ordenou. O Baal Shem Tov, fundador do judaísmo chassídico, afirmou que “o objetivo de toda a Torá é que cada pessoa se transforme em uma Torá” — ou seja: que todas as nossas ações, das mais prosaicas às mais complexas; do amarrar o sapato ao desenvolver estratégias financeiras, deveriam ser exemplos do nosso comprometimento judaico. A benção que fazemos ao estudar a Torá: ברוך אתה ה׳ אלהינו מלך העולם אשר קדשנו בנמצוותיו וציוונו לעסוק בדברי תורה, Você é abençoado, ה׳, Soberano do Universo, que nos santificou com as Suas Mitsvot e nos instruiu a nos ocuparmos com as palavras da Torá, é evidência disso. A Torá não é algo sobre a qual filosofamos ou sobre a qual falamos apenas na teoria. A Torá, e aqui a intenção é toda a tradição judaica, tem a chance de ser a guia mestra pela qual vivemos todos os momentos.

Será que conseguimos renovar a relação de cada um de nós com a tradição judaica, desenvolvendo-a com criatividade, conhecimento, engajamento e paixão?

Este é meu desafio para cada um de nós neste 5782 e neste novo ciclo de leitura da Torá que se inicia no meio da semana!

Chag Sameach! Shabat Shalom!


[1]  Ex. 33:12-34:10
[2]  Deut 33:4

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Dvar Torá: Um conversa entre Unetanê Tokef e Col Nidrei. Iom Kipur 5782 (CIP)


Era uma vez um reino no qual viviam dois príncipes que nunca se encontravam. Eram primos entre si e muito queridos pelos habitantes do reino. Na verdade, havia gente de fora do reino que viajava por horas apenas para poder estar na companhia de um deles… 

E, apesar das suas inúmeras aparições públicas, sempre cheias de gente ao redor, ninguém jamais tinha visto os dois príncipes juntos — e muitos se perguntavam como seria o encontro entre os dois príncipes, tão carismáticos e tão diferentes.

Um deles, aquele que todos consideravam o mais novo, alternava entre uma abordagem doce e paterna com a postura rígida de um membro da família real. Quando brincava de faz-de-conta, gostava de assumir todos os papéis ao mesmo tempo: era o rei, o juiz, a testemunha, o perito, e também a vítima e o algoz. Na mistura destes papeis, encorajava a todos a serem muito cuidadosos em suas condutas e a procurarem reparar qualquer mal que tivessem causado.

O outro príncipe era bastante mais formal. Quando falava, usava palavras estranhas, que as pessoas não costumavam usar no dia-a-dia, quase como se tivessem saído das páginas de um contrato ou de um procedimento jurídico. Quando via outra criança chorando, com medo das consequências de algo que tinha dito, lhe dizia que não fazia mal, que as palavras poderiam ser anuladas e até lhes ensinava um truque para que as palavras fossem anuladas antes mesmo de serem ditas. Algumas crianças saíam destes encontros recompostas, prontas para retomarem a brincadeira sem maior malícia; outras, no entanto, acabavam aproveitando o truque para dizerem o que bem quisessem, sem se importar se magoassem alguém.

Muitas eram as pessoas do reino que se perguntavam como seria um encontro entre os dois príncipes: o que um diria ao outro. Será que se abraçariam ou se tratariam com frieza?

Quem sabe você vive ou conhece uma situação similar à dos dois príncipes?! Nas páginas dos nossos machzorim, parece que algumas rezas também poderiam ganhar bastante do encontro e do diálogo com outras que vivem a poucas páginas de distância. Para quem tem o Machzor Chatimá Tová da CIP nas mãos, eu vou pedir para vocês abri-lo na página 4, que tem o final do Col Nidrei e deixar um dedinho aí e colocar um outro dedo na página 198, no comecinho do Unetanê Tokef. Para quem tem o Machzor Completo, que a Hebraica usa, coloquem o primeiro dedo na página 244 da primeira seção, dedicada a Rosh haShaná e o segundo dedo na página 21 da segunda seção, dedicada a Iom Kipur.

Se essas duas rezas se encontrassem, o que será que diriam uma à outra?

Podiam começar contando suas histórias e seus mitos de origem. Um mito, que eu escutei pela primeira vez na escola judaica onde estudei, diz que o Unetanê Tokef foi escrito no século 11 pelo rabino Amnon de Mainz, que foi obrigado a se converter ao Cristianismo pelo arcebispo da sua cidade. Em uma tentativa de atrasar o processo, o rabino teria pedido 3 dias para pensar, mas imediatamente se arrependeu de ter dado a impressão de que consideraria a proposta, e pediu que sua língua fosse cortada. Ao invés disso, o arcebispo teria ordenado suas pernas e braços amputados. Alguns dias depois, em Rosh haShaná, o rabino teria pedido para ser levado à sinagoga. Lá, agonizando, o rabino teria proclamado as duras palavras do Unetanê Tokef em seus últimos suspiros. Apesar da popularidade desta história, fragmentos descobertos na guenizá do Cairo, o imenso acervo de documentos históricos judaicos encontrados no sótão de uma sinagoga no Egito, indicam que a composição do Unetanê Tokef é bem anterior, sendo conhecida, pelo menos, desde o século 8. 

Frente a uma história de origem tão rica para o Unetanê Tokef, o Col Nidrei também poderia contar a sua origem [1]. Na época dos gueonim, no meio do século 9, o sidur de Amram Gaon menciona que o antecessor do seu antecessor, um século antes, tinha ouvido sobre o Kol Nidrei — uma reza que cancelava votos e promessas e sobre a qual nenhum destes sábios tinha nada simpático a dizer. Apesar das críticas quase universais, o mundo judaico foi se apegando ao Col Nidrei, até que quatro séculos depois, no século 13, já era uma reza estabelecida como prática em Iom Kipur. Foi nesta época que a linguagem, que até então cancelava votos e promessas feitos no ano passado, foi alterada para cancelar votos e promessas que seriam feitas no ano seguinte. Apesar da sua popularidade, com o surgimento do Iluminismo Judaico na Europa Central e o desenvolvimento de leituras críticas da tradição judaica, o Col Nidrei voltou a ser o alvo de ataques no século 19 por colocar em risco a credibilidade judaica em um contexto que tentava garantir a igualdade civil perante a lei. E, mesmo assim, o Col Nidrei ficou — um sobrevivente litúrgico frente a tantas críticas.

Unetanê Tokef, então contaria, um pouco do que diz. Engrossaria a voz, endireitaria a coluna e declamaria:

Em Rosh Hashaná está escrito, e no jejum de Yom Kipur é selado!

Quantos vão passar, e quantos vão nascer; quem vai viver e quem vai morrer; que viverá uma vida longa e quem chegará a um fim prematuro; quem morrerá pelo fogo e quem pela água; quem pela espada e quem por animais; quem pela fome e quem pela sede; que pelo terremoto e quem pela peste; quem será estrangulado e quem será apedrejado; quem estará em paz e quem será perturbado; quem estará sereno e quem estará perturbado; quem estará tranquilo e quem estará atormentado; quem empobrecerá e quem ficará rico; quem cairá, quem se levantará.  

Mas tshuvá, tfilá e tzedaká têm o poder de transformar a dureza do decreto. 

Assim como o shofar, o Unetanê Tokef é um alarme que nos convida a contemplar como alteraríamos nossa conduta no mundo se descobríssemos que este ano é o último, que não vamos receber uma segunda chance.

De algum jeito, passamos este último ano inteiro nos fazendo esta pergunta: “e se não passarmos deste ano?”

  • porque estávamos preocupados com nossa própria saúde e com a das pessoas que nos são mais importantes e queridas no mundo;
  • porque percebemos que haviam sinais de uma iminente crise sanitária global e continuamos vivendo sem tomarmos as precauções ou nos preparamos para lidarmos com suas consequências;
  • porque vendo o impacto desigual que a pandemia teve sobre os segmentos mais oprimidos das nossas sociedades, nos demos conta de que precisamos urgentemente fazer Ticún Olam e transformar a estrutura de um mundo que constantemente produz desigualdade e injustiça extremas;
  • porque ao assistirmos passivamente a Amazônia e o Pantanal queimarem e fenômenos climáticos radicais acontecerem ao redor do globo, nos perguntamos que mundo estamos deixando para nossos filhos e netos;
  • porque vimos democracias serem questionadas em várias partes do planeta, incluindo no nosso cantinho, vislumbramos o retorno a um passado que imaginávamos enterrado.

Não faltaram erros que nos levaram a este 5781 complicado. Erros são importantes, desde que os reconheçamos, enderecemos e busquemos mudar nossas condutas. Este processo, que a tradição chama de tshuvá, o retorno à melhor versão de nós mesmos, não é possível sem o reconhecimento de erros e sem transformações profundas — sejam elas pessoais ou sociais. Somos todos criaturas do hábito e evitamos mudar a todo custo. Unetanê Tokef e o ano de 5781 escancararam na nossa frente que não é mais possível adiar. Expostos a esta realidade, muitos de nós decidimos fazer de 5782 uma experiência radicalmente diferente do ano passado.

Col Nidrei escutava tudo isso pensativo, cabisbaixo. Quando, depois de pensar sobre tudo o que Unetanê Tokef dizia, resolveu se manifestar, ele leu um pedaço do seu texto:

 “todos os votos, proibições, juramentos (…) deste Iom Kipur até o próximo Iom Kipur (…) sejam todos cancelados, de todos nos arrependemos, sejam abandonados, interrompidos, anulados e invalidados, não ocorridos e inexistentes. Que os votos não sejam votos, que os juramentos não sejam válidos.”

Houve um grande silêncio. Se as decisões que tomamos frente ao desafio da nossa própria mortalidade e a do nosso planeta foram canceladas, isso quer dizer que permanecemos livres para continuar nos caminhos que nos trouxeram até esta crise? Será que Col Nidrei também anula nossas resoluções de transformação profunda?

Por um tempo, eu perdi meu próprio caminho nesta conversa entre Unetanê Tokef e Col Nidrei. Um artigo da rabina Ruth Durchslag me ajudou a reencontrá-lo, justamente no silêncio. Ela mostra como Col Nidrei opera sob a premissa de que as palavras das nossas promessas e votos não têm importância e nos traz uma série de outros exemplos de como as palavras são valorizadas na tradição judaica. Afinal de contas, foi através das palavras que Deus criou o mundo! As duas perspectivas têm eco na tradição!

Nas palavras da rabina Durchslag:

Se mesmo as palavras do dia-a-dia são importantes, então nossas palavras de promessa e confissão deveriam ser ainda mais importantes. Como, então, podemos declarar nossas promessas nulas e sem efeito em Iom Kipur? Como pode ser que façamos algo tão essencialmente "não-judaico" em um dos dias mais sagrados do ano?

Talvez a resposta esteja no que acontece quando retiramos nossas palavras. O objetivo de retirar as palavras pode não ser para anular seu impacto, mas para revelar o silêncio que permanece quando elas se vão. Vladimir Horowitz, o grande pianista, certa vez explicou seu gênio musical dizendo: “Eu não toco as notas melhor do que muitos pianistas, mas as pausas entre as notas - ah! É aí que reside a grande arte."

Parece que Deus também entendeu a importância das pausas. Se Deus criou o mundo com palavras, o Shabat deve ter sido o momento para Deus permanecer em silêncio. No Shabat, Deus simplesmente parou de falar para refletir sobre o que o Divino havia dito e, portanto, feito. Deus entendeu o poder de refletir sobre nossas vidas de um lugar de silêncio. Os judeus conhecem o poder criativo das palavras, mas também entendemos que o silêncio é um espaço sagrado. [2]

E assim, no silêncio, os dois primos se encontraram — as palavras canceladas, mas a descoberta verdadeira da mesma forma.

Que do encontro entre a rigidez do Unetanê Tokef e a leniência do Col Nidrei, encontremos compreensão no nosso próprio silêncio. Que as palavras ditas e não ditas nos nossos processos pessoais e coletivos de tshuvá gerem sentimentos, emoções, intuições que nos permitam ir além do simples significado das palavras e nos sustentem no processo. Que aquilo que não foi dito seja capaz de nos encorajar a buscar a transformação com afinco ao mesmo tempo em que somos generosos com nossas próprias limitações. Que mesmo com o toque de um grande shofar, ainda consigamos escutar um pequeno suspiro.

Shaná Tová! Gmar chatimá Tová!


[1] Lawrence A. Hoffman - “Morality, Meaning, and the Ritual Search for the Sacred” in All These Vows: Kol Nidre, p. 3-21.. 
[2] Ruth Durchslag,”Words Mean Everything , Words Mean Nothing — Both Are True”, All These Vows: Kol Nidre, p. 137-141.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Músicas que nos renovam e que nos fazem sentir

Não sei se é só comigo, mas músicas e poemas têm o poder de me transportar no tempo e me fazer sentir emoções de outras épocas. Algumas canções do começo dos anos 80, por exemplo, me transportam rapidamente para o banco de trás do carro dos meus pais, no começo da adolescência, com aquele misto de sentimentos que caracterizam a idade. Choref 73 (Inverno de 73) traz de volta as lágrimas que chorei no final dos anos 90, quando eu morava em Israel e o país buscava se recuperar do trauma do assassinato de Itschak Rabin z”l. Há músicas que instigam sentimentos de revolta, animação e ativismo político. Há músicas que despertam nosso romantismo, e outras que nos ajudam a remendar o coração partido.

Há momentos em que buscamos na música a espiritualidade do agora, o que algumas vezes se chama de “mindfulness”, a capacidade de estarmos presentes no momento, sem nos preocuparmos com a próxima reunião ou com os toques insistentes do celular avisando novas mensagens que não param de chegar. A mim, ajudam nesse momento melodias rítmicas e repetitivas, quase mantras, repetidas inúmeras vezes. Essas músicas parecem ter a chave para destravar partes da espiritualidade que permanecem inacessíveis a maior parte do tempo.

A tradição judaica também tem uma relação forte com a musicalidade e com a poesia. Para algumas pessoas, mudar uma melodia sinagogal é quase cometer uma heresia, um desrespeito à prática comunitária. Para eles, há um conforto espiritual que vem da rotina, do fato de  estarmos acostumados às mesmas rezas, aos mesmos textos e às mesmas melodias. Para outros, a mudança constante é necessária para que a espiritualidade não se torne mecânica, para que valorizemos a experiência daquele momento e possamos nos libertar de ciclos passados.

Em Rosh haShaná e em Iom Kipur usamos a liturgia -- texto e música -- para nos transportarmos no tempo, para outras comemorações das mesmas festas, nos braços dos nossos pais e avós, com outros rabinos e outros chazanim, ao mesmo tempo em que construímos nossas experiência do agora, com nossos pais e nossos filhos, nossos avós e nossos netos. 

Nas Grandes Festas, também usamos a reza para transportar Deus no tempo e no espaço, para um dos momentos de maior intimidade de toda a Torá, quando Deus instruiu Moshé a Lhe cantar os Treze Atributos da Compaixão Divina [1]. É uma tentativa de levar Deus a recordar-se daquele momento de intimidade e exercer Sua compaixão também com relação aos nossos atos. Na parashá desta semana, por outro lado, Deus instrui Moshé a anotar um poema e ensiná-lo aos Israelitas para que sirva de testemunha contra o povo de Israel [2]. Em uma mesma semana, músicas nos ajudam a despertar a compaixão Divina e a lidar com a Sua ira. 

Esse é o poder da música e da poesia: despertar nossos sentimentos e, através deles, afiar nossa razão. Perceber o subtexto das entrelinhas, manifestar sentimentos que as palavras em prosa não conseguem. Que música, você acha, marcará este 5782 para você? 

Shabat Shalom e Shaná Tová!


[1] Ex. 34:6-7a

[2] Deut. 31:19



terça-feira, 7 de setembro de 2021

Dvar Torá: Que o Shofar nos desperte, nos ajude a sonhar e vislumbrar o caminho para chegarmos lá! Rosh haShaná 5782 (CIP)


Quem tem mais de 30, certamente se lembra de um dos garotos-propaganda mais icônicos da TV brasileira: Carlinhos Moreno interpretava o tímido e desajeitado porta-voz da Bombril, aquela esponja de aço que todo mundo sabe que tem mil e uma utilidades!

Quase com mil e uma utilidade é o que poderia se dizer também do shofar, o símbolo marcante desta época do ano e que o Luis tão lindamente tocou há alguns instantes. Há bons motivos para que seja exatamente do toque do shofar que nos lembramos quando escutamos falar de Rosh haShaná, especialmente o fato de que, na Torá, esta festa que hoje chamamos de Rosh haShaná é chamada de Iom Truá, o “Dia da Truá”, que hoje a maioria de nós associa a um dos tipos de toque do shofar. Mas qual seria o motivo para a centralidade da escuta do shofar para nossa prática religiosa nesta época do ano?

O rabino Saadia Gaón, que foi o primeiro a buscar sistematizar a tradição judaica com os conceitos filosóficos da sua época no 10º século, compilou uma lista de dez motivos para tocarmos o shofar em Rosh haShaná [1] — entre os motivos apontados, está a ideia de que “o som de um shofar é como a voz dos profetas que soou como uma sirene alertando o povo judeu para mudar seus caminhos, retificar seus erros e voltar para Deus.” [2]

Esta ideia do alarme para nos alertar sobre uma questão social ou pessoal sempre me lembra da metáfora do sapo na água quente. Conta diz a lenda, aparentemente questionada pela ciência moderna, que se você tentar colocar um sapo vivo em água fervente, e ele imediatamente pulará para fora da panela sem grandes impactos, mas se você colocá-lo na água fria e aumentar a temperatura lentamente, o sapo irá se acostumando com o calor  e ficará na panela até ser completamente cozido. 

Nas nossas vidas, é bastante comum irmos nos acostumando a lentas mudanças nas condições que, por não serem grandes desvios daquilo com que tínhamos nos acostumado, vão sendo absorvidas sem que tomemos, de fato, qualquer ação — pense em um emprego, que era dinâmico e desafiador e vai mudando aos poucos até que, quando você se dá conta está há anos desenvolvendo atividades monótonas e pouco interessantes; ou em um relacionamento romântico, que começou cheio de paixão, carinho e atenção, mas que perde todas estas características com o passar do tempo e se torna opressivo e insípido. Precisamos soar o alarme!

Além da mensagem dos profetas, também no Talmud o toque do shofar é relacionado  ao espanto com como as coisas são e a necessidade de empatia, especialmente para com os mais excluídos. Após concluírem que truá é um toque do shofar, os sábios começam a discutir como exatamente este toque é definido. A referência na discussão é o choro da mãe de Sísera, um general canaanita morto por Iael, uma hebreia. O choro da mãe é associado ao significado de truá. Havia, entre os sábios do Talmud, quem defendesse que era um choro soluçado, que deu origem ao que chamamos de shevarim hoje em dia, e havia quem defendesse que fosse um choro mais contínuo, assim como o toque que hoje chamamos de truá [4]. Em comum, no entanto, tem o fato de tomarem a  dor da mãe do inimigo como a referência básica. O shofar nos lembra da humanidade fundamental de cada pessoa e nos convida a desenvolver empatia com o sofrimento do outro, mesmo com (ou talvez especialmente com) o sofrimento do outro radicalmente diferente de mim.

Assim como na vivência pessoal, também do ponto de vista social, vamos nos acostumando com situações inaceitáveis contra as quais teríamos nos rebelado se a sua evolução não tivesse sido tão gradual. Vamos pegar, por exemplo, a evolução dos casos de Covid — apesar da queda nas últimas semanas, a média móvel do número de casos se mantém acima de 600 [5]; ou seja, para usar a velha comparação com acidentes aéreos: é como se algo entre 3 e 4 Boeings 737-Max caíssem todos os dias no Brasil. Imaginem o luto coletivo que estaríamos vivendo por aqui com estes acidentes aéreos. Como, no entanto, o número de mortos foi subindo de forma lenta e gradual, fomos nos acostumando com este quadro e, de alguma forma, nos tornamos insensíveis à sua gravidade. Resta lembrar que este quadro não era inevitável e que há países no mundo nos quais os alertas soam e regras de quarentena mais rígidas são adotadas quando o número de pessoas infectadas passa de um determinado patamar, mesmo que ainda não tenha acontecido nenhuma morte. Precisamos soar o alarme! 

A situação dos moradores de rua na cidade de São Paulo é outro exemplo no qual vamos nos acostumando com a negação sistemática e persistente da humanidade dos nossos co-cidadãos sem que nos mobilizemos para radicalmente transformar um sistema que joga às ruas milhares de famílias. Basta ver a cara de horror de um turista visitando São Paulo para nos darmos conta de como perdemos parte da nossa própria humanidade em nossa conivência com esta situação. Precisamos soar o alarme!

Além de soar este alarme para as situações com as quais nos acostumamos, apesar de que não deveríamos, o shofar também nos ajuda a vislumbrar dias melhores e a contemplar uma realidade profundamente distinta. Do ponto de vista tradicional, isso implica nos levar de volta ao momento da revelação no Monte Sinai [7], no qual o povo ouviu o som do shofar cada vez mais alto. Naquele momento, no Monte Sinai, o povo judeu se estabelecia ao redor de um ideal de sociedade e de pacto com o Divino. Era o momento de sonhar com o que significava construir um mundo mais justo e quais eram as ferramentas necessárias para este projeto; era também o momento de cada pessoa presente àquele momento de Revelação se perguntar de que forma continuaria se relacionando com o Divino e que papel este relacionamento teria na sua vida. De volta a 5782, o shofar nos provoca a refletirmos sobre quem gostaríamos de ser, pessoal e coletivamente, e a agirmos para podermos chegar lá.

Uma das metáforas de Rosh haShaná é Iom Harat Olám, o dia do Nascimento do Mundo, e o toque do shofar nos leva a vislumbrar qual é este mundo ao qual gostaríamos de ver nascer. Em que tipos de relacionamentos interpessoais você gostaria de se envolver? Quais projetos profissionais você gostaria de desenvolver daqui para frente? Que papel você gostaria de ter na transformação e aprimoramento do mundo? Que comunidade, que cidade, que país nós gostaríamos de estar construindo juntos daqui pra frente?

Retomando: uma função do shofar é nos despertar para a situação do mundo hoje; outra função é nos ajudar a vislumbrar para onde gostaríamos que o mundo fosse. A terceira função do shofar, na qual eu gostaria de focar agora, é como chegamos lá…

Na história da conquista de Jericó, Iehoshua lidera o povo hebreu em um cerco à cidade tocando shofar e gritando aos céus, levando ao colapso das muralhas que protegiam a cidade [8]. Parafraseando um professor querido, o rabino Ebn Leader, o shofar também poder ter a função de trincar a casca dura que se forma ao redor dos nossos corações e que nos impede de desenvolvermos empatia ou de estarmos abertos aos desafios da transformação. A casca é um mecanismo de defesa que permite que nos mantenhamos sãos em um mundo de תֹּהוּ וָבֹהוּ, do mais absoluto caos. Trincar esta casca para permitir que a quebremos envolve aceitarmos o risco de saírmos de coração quebrado, mas mantê-la lá significa abrirmos mão de melhorarmos, de crescermos, de transformamos a nós mesmos e ao mundo ao qual pertencemos.

Algumas fontes associam o toque do shofar ao choro de uma mãe dando a luz — neste caso, Deus dando a luz ao mundo. É um choro de dor e de esperança que nos transformemos através da teshuvá e que aceitemos a parceria com Deus para consertar o mundo. 

Quando, na sequência do serviço, escutarmos novamente o toque do shofar, permita que ele te desperte para a realidade que nos cerca, que ele te ajude a conceber uma nova situação mais justa, mais inclusiva e mais significativa para você e que ele te ajude a se abrir para a possibilidade de buscar esses novos caminhos.

Shaná Tová! Que sejamos todos parceiros nestes processos!

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Dvar Torá: Encontrando razão naquele de quem discordamos (CIP)


Dá para acreditar que já estamos naquela época do ano de novo?

Parece que foi ontem que saímos do Teatro Artur Rubinstein, onde tínhamos feito o primeiro serviço de Iom Kipur conjunto Hebraica-CIP, a primeira vez que nossos serviços das Grandes Festas eram transmitidos online, a primeira vez que passávamos Iom Kipur sem a comunidade presente fisicamente, sem aquele mar de talitot no final da Neilá.

Parece que foi ontem, mas já faz quase um ano — viramos as doze folhinhas do calendário judaico e estamos às vésperas das Grandes Festas de novo.

Desta vez, nem tudo será novidade; nem tudo será a primeira vez na história — e, ainda assim, teremos novos dilemas a resolver. O primeiro dia de Rosh haShaná, neste ano, cai no 7 de setembro, feriado nacional e data prevista para manifestações ideologicamente antagônicas, uma no centro da cidade e outra na avenida Paulista. Todos os dias, nossos jornais estampam notícias sobre possível violência de lado a lado e a preocupação do que pode acontecer casos estes dois grupos se encontrem. 

Há um texto lindo de Rav Nachman de Brestlav, um mestre chassídico que viveu na Polônia no final do Século 18, no qual ele diz que a divergência é ingrediente fundamental para a criatividade [1]. Na sua leitura, seria a divergência que criaria o espaço vazio no qual novas criações pudessem ocorrer, da mesma forma que a retração Divina criou o espaço vazio no qual a criação do mundo pôde ocorrer, de acordo com o mito luriânico da Criação.

No encontro de sectarismos que vivemos hoje, no entanto, a divergência dá origem à negação da legitimidade de outra posição que não a sua e ao desejo de silenciar esta outra forma de ler a realidade. Cada um de nós (e, sim, a questão do sectarismo e da demonização do outro atinge cada um de nós) escuta este comentário e comenta “mas você não pode comparar a minha postura com a que o outro lado tem, eles representam a negação de todos os valores nos quais acredito!”

A parashá desta semana começa conclamando toda a comunidade dos israelitas. De uma forma paradoxal, afirma logo nos seus primeiros versos: “vocês estão aqui todos hoje perante ה׳ seu Deus, os líderes das tribos, seus anciões, oficiais, todo homem de Israel, suas crianças e mulheres e seu estrangeiro, do cortador de lenha ao carregador de água.” [2] Claramente a comunidade toda, mas por que a imagem do cortador de lenha ao carregador de água?!

Eu gosto da explicação proposta pelo rabino Bradley Shavit Artson [3]:  para quem o cortador de lenha indica alguém sem maior respeito pela dignidade daqueles com quem se relaciona, que vê em seu oponente alguém a ser destruído, com argumentos ou com uso da força, se for necessário. Os carregadores de água, por outro lado, simbolizariam pessoas com a capacidade de enxergar em todas as opiniões mananciais de inspiração, potencial para que aprendamos algo dela. Em nossos equilíbrios internos, todos nós temos um pouco de cortadores de lenha e um pouco de carregadores de água. Que aspecto nos permitimos salientar em cada momento? Isso depende muito do contexto social no qual vivemos… em momentos polarizados como estamos vivendo hoje, o lado cortadores de lenha acaba ganhando força e os conflitos ficam mais acirrados. Cabe a cada um de nós, então, criar as condições para mudar este contexto e permitir que nos comportemos mais como carregadores de água. Que nos permitamos aprender algo da manifestação à qual não iríamos mesmo se ela não acontecesse em Rosh haShaná; identificar algo positivo na conduta da qual discordamos fundamentalmente. Só assim, como preconizado por Rav Nachman, a divergência dará espaço à criatividade.

O curioso é que a divergência destas manifestações se dá, ao menos no nível das narrativas, sob o mote de uma causa comum: a defesa da democracia brasileira. Nossa parashá termina com um um curioso desafio: “veja, eu te ofereço hoje a vida e o bom, a morte e o ruim (…) escolha a vida.” [4] Eu não conheço ninguém que, dadas estas opções, decidisse optar pela morte e pelo ruim e, mesmo assim, as pessoas fazem opções distintas todos os dias. O que significa escolher a vida ou defender a democracia pode ser radicalmente diferente, dependendo do nosso interlocutor. Assumir que decisões distintas das nossas impliquem necessariamente um conjunto de valores deturpados ignora a possibilidade de que estas decisões simplesmente reflitam distintas leituras do que seja vida, bom, morte e ruim ou do que signifique defender a democracia brasileira e o direito a uma sociedade na qual diferentes concepções possam conviver. 

Estamos na reta final para Rosh haShaná, o dia em que começamos a nos confrontar com nossa própria mortalidade e com as consequências dos nossos atos. Que aproveitemos os próximos dias para exercitar nosso lado carregador de água e nossa capacidade de discordar com civilidade e respeito e de aprender até mesmo de quem discordamos.

Shabat Shalom e Shaná Tová!