Mostrando postagens com marcador 29-Acharei Mot. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 29-Acharei Mot. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Dvar Torá: Entre criatividade e arrogância (CIP)


Entre os muitos hábitos que eu tinha na juventude e que meus pais esperavam que eu abandonasse quando envelhecesse está o gosto musical — que, para desespero deles e dos meus filhos, inclui cantores e conjuntos fora do consenso musical. Por exemplo, eu adoro releituras de músicas bregas — Marisa Orth e a Banda Vexame faziam um trabalho lindo nesse sentido; mais recentemente, Nando Reis e Nila Branco também dedicaram álbuns a este tipo de trabalho. Outro tipo de música que eu gosto fora do mainstream é o que se convencionou chamar de Vanguarda Paulista, um movimento musical que incluía nomes como os de Arrigo Barnabé, Grupo Rumo, Premeditando o Breque e o Língua de Trapo. Ainda hoje, tenho dificuldade para no Metrô, ver os nomes dos bairros de São Paulo refletidos nos nomes das estações não começar a cantarolar:

Chora Menino, Freguesia do Ó
Carandiru, Mandaqui, aqui
Vila Sônia, Vila Ema, Vila Alpina
Vila Carrão, Morumbi, pare
Butantã, Utinga, Embu e Imirim
Brás, Brás, Belém
Bom Retiro
Barra Funda
Ermelino Matarazzo, Mooca, Penha, Lapa, Sé
Jabaquara
Pirituba
Tucuruvi, Tatuapé. [1]

Essas bandas eram conhecidas por um estilo musical MUITO eclético, que misturava muitos gêneros diferentes e sempre com grande dose de humor. No álbum mais famoso do Língua de Trapo, que tem o nome da própria banda, uma vinheta de humor no meio do álbum trazia o seguinte diálogo:

– Seu nome, por favor?
– Inês
– Inês, você conhece o grupo Língua de Trapo?
– Não.
– E o que você acha deles?
– Uma porcaria.

Parece piada e foi incluído no álbum, eu tenho certeza, como piada, mas a triste verdade é que esta vinheta descreve de forma bastante acurada o que estamos vivendo. Temos opinião sobre TUDO. Opinião sobre o que conhecemos e, especialmente, opinião sobre aquilo sobre o qual não temos o mínimo conhecimento. 

Nós últimos anos, este fenômeno tem se acentuado, com uma certa valorização da falta de conhecimento. Se um dispositivo eletrônico tiver sido desenvolvido por alguém que não tinha formação na área, ganha crédito; se um remédio tiver sido criado por alguém que não é médico nem farmacêutico, ainda melhor. Ao invés de valorizarmos o conhecimento e uma atitude de humildade frente a ele, chegamos a um estado de coisas em que a arrogância ignorante é que é valorizada.

Fiquei pensando nesta realidade quando li o comentário de Dena Weiss. coordenadora do Beit Midrash do Instituto Hadar, em Nova York, para a parashá desta semana [2].

Há mais ou menos um mês, em parashat Shmini, lemos sobre o fogo estranho, אש זרה, esh zará, que os filhos de Aharon, Nadav e Avihu, ofereceram a Deus na inauguração do Mishcán e como de forma pouco compreensível um fogo Divino os consumiu. [3]

Preciso confessar que tenho certa dificuldade com esta passagem. Em parte, ela parece justificar uma atitude hiper-conservadora com relação à prática religiosa, na qual apenas o que já tiver sido estabelecido é aceito. Qualquer inovação corre o risco de incitar a fúria Divina e nos ver consumidos pelo fogo. Qualquer espaço para a espontaneidade, ficaria desta forma, inviabilizado pelo texto bíblico. Para mim, no entanto, a prática religiosa floresce na manifestação genuína, naquilo que a tradição chama de “cavaná”, da ação motivada pela intenção dos nossos corações — ainda que em espaços delimitados por “keva” a formulação tradicional da prática religiosa. Por isso, o episódio de Nadav e Avihu consumidos pelo fogo sempre trouxe consigo bastante desconforto. 

Agora, nossa parashá literalmente retoma aquele episódio, nos contando o que aconteceu na sua sequência. Moshé recebe as instruções que deve passar a Aharón depois da morte de seus filhos:

A primeira instrução é que Aharón não pode entrar na parte mais sagrada do Mishcán quando quiser, mas apenas em Iom Kipur, seguindo instruções muito específicas. A segunda instrução é com relação ao ritual dos dois bodes a serem oferecidos em Iom Kipur: um quer será sacrificado para Deus e outro que será enviado ao deserto.

Dena Weiss buscou a ligação entre a morte de Nadav e Avihu e a proibição de entrar no קודש הקודשים, kodesh hakodashim, o lugar mais sagrado do Tabernáculo. Na sua leitura, a transgressão de Nadav e Avihu não estava na oferta que eles haviam trazido sem instrução prévia, mas no fato de que não tinham respeitado o espaço mais íntimo que o Divino tinha estabelecido no Santuário. Quantas vezes não sentimos nossos espaços pessoais ou profissionais invadidos; algumas vezes levando a sensações de termos sido profundamente desrespeitados? Se nos sentimos assim, podemos imaginar que o Divino, que inaugurava o espaço de sua morada entre os Hebreus, reagiria também com indignação frente à violação do seu espaço.

Dena Weiss também nos mostra que, de acordo com a literatura rabínica, esta era uma prática na qual Nadav e Avihu já tinham se engajado antes. Quando Deus convoca Moshé para subir ao Monte Sinai e receber as duas Tábuas do Pacto, o acompanharam Aharón, setenta anciãos, Nadav e Avihu. Naquela situação, de acordo com o midrash, eles já teriam agido de forma desrespeitosa com relação ao Divino, comendo sua refeição enquanto olhavam para a face de Deus. Dena Weiss continua: “A atitude de arrogância e privilégio de Nadav e Avihu não apenas se manifestou como grosseria para com Deus; também foi expresso em uma abordagem chocantemente superior que eles adotaram em relação a outras pessoas.”

Nadav e Avihu se comportavam como se seu status lhes conferisse direitos especiais sem que eles precisassem seguir regras, conhecer os parâmetros. Eles não precisariam adquirir conhecimento, nem construir pessoalmente sua relação com Deus. Seu pai era o Sumo Sacerdote; seu tio era Moshé. Como algo poderia lhes ser negado?!

Nas palavras de Dena Weiss: “(…) o pecado de Nadav e Avihu (…) corresponde à pior parte de nós mesmos. Eles não refletem apenas nosso desejo virtuoso de dar; também refletem nosso desejo egoísta de possuir o que não é nosso por direito. Um exame mais detalhado de seu pecado revela que Nadav e Avihu não estavam sendo atenciosos – exatamente o oposto: eles agiam sem consideração, eram descuidados e desrespeitosos. Sua ação demonstrou que eles pensavam que tudo era deles para dar, o que mal mascara sua compreensão de que tudo também é deles para receber. Em sua abordagem, o mundo e tudo nele pertence a eles.”

Quantas vezes não agimos como Nadav e Avihu, acreditando que nossos privilégios nos abrem todas as portas sem esforço? Que nossa cor, nosso pertencimento comunitário, nossa idade, nosso status sócio-econômico, nossa relação com pessoas em posição de poder , que todos estes fatores nos deveriam conferir um tratamento diferenciado, um reconhecimento da pessoa iluminada que imaginamos ser — mesmo que não tenhamos feito por merecer, mesmo que não tenhamos ainda conquistado estas distinções….

Que nesse shabat consigamos deixar a humildade nos conduzir, escutando antes de falar, estudando e considerando antes de emitir opiniões infundadas, considerando o contexto e a comunidade antes de definirmos nossas ações de forma isolada.

Shabat Shalom,



quinta-feira, 22 de abril de 2021

A morte é parte da vida

O nome da primeira parte da parashá dupla desta semana, Acharei Mot, nos remete de volta ao episódio da morte dos dois filhos de Aharón, Nadav e Avihu, sobre o qual lemos há algumas semanas [1]. Naquele episódio, os dois filhos ofereceram um “fogo estranho” a Deus e foram consumidos pelo fogo. Moshé orienta seu irmão e sobrinhos a não demonstrarem sinais de luto pela morte de Nadav e Avihu e Aharón parece aceitar a instrução sem questionamentos. 

De volta à leitura desta semana, em sua tradução literal, Acharei Mot (o título da parashá) significa “depois da morte de...” porque, nela, Deus ordena instruções que Moshé deve passar a Aharón na sequência da morte de Nadav e de Avihu. 

Vivemos em uma época de comportamentos ambíguos com relação à morte. De um lado, os avanços científicos dos últimos séculos ampliaram de forma significativa nossa expectativa de vida, desenvolvendo remédios para doenças tratáveis, melhorando as condições sanitárias de parte considerável da população (ainda que muito trabalho ainda siga a ser feito nessa área), criando vacinas que possibilitaram a prevenção e até a erradicação de algumas doenças. A mortalidade infantil no estado de São Paulo, por exemplo, caiu de 188,9 por 1.000 nascidos vivos em 1900 para 10,7 por 1.000 nascidos vivos em 2018, uma redução de 94%! [2] Com esses ganhos, não causa surpresa que a morte tenha se tornado um tabu entre nós. No passado, convivia-se mais com a morte, especialmente com a morte jovem, e, por isso, o assunto era tratado com maior naturalidade. Hoje, vivemos como se nossas vidas fossem durar para sempre e não nos preparamos para nos despedirmos de nossos entes queridos quando eles se vão. Vivemos como se sempre fôssemos ter uma chance a mais para perseguir um sonho ou para ter uma conversa importante; quando a morte chega, na grande maioria das vezes, nos pega despreparados…

O outro lado da ambiguidade, no entanto, é que a grande disponibilidade de estatísticas faz com que fiquemos atordoados entre tantos números das nossas vidas. Perdemos a sensibilidade para a singularidade de cada vida humana, para a dor imensa que a morte de uma única pessoa pode causar. A tradição judaica ensina que “salvar uma vida é como salvar todo o mundo” [3] mas é difícil verdadeiramente assimilar este conceito quando as mortes são contabilizadas aos milhares. Por exemplo, a média móvel dos mortos por Covid no Brasil quase quintuplicou desde o começo do ano [4] e, após nos chocarmos por algumas semanas com o aumento, logo nos acostumamos e voltamos a nos comportar como se a doença não trouxesse risco algum.

Tudo muda, é claro, quando perdemos alguém muito próximo. O silêncio, como o de Aharón, pode ser a resposta de alguns à morte de uma pessoa da família, mas há também quem chore, quem grite, quem fique com raiva, quem queira aproveitar a sua vida ao máximo antes que ela também termine ou quem perca totalmente a vontade de viver. Para alguns, a perda lhes ajuda a ganhar perspectiva sobre o que é realmente importante na vida, enquanto, para outros, tudo perde a perspectiva e o significado. A dor pela perda é absolutamente subjetiva e não segue padrões pré-definidos. Há quem chegue ao final da shivá tendo-a processado completamente, mas há também quem só se dê conta da dimensão da sua perda meses depois de terminado o período de shloshim. Parte do processo de luto inclui aceitar que não há fórmulas prontas e sermos generosos com nós mesmos e com aqueles à nossa volta.  O sábio Hilel nos ensinou que não devemos julgar outra pessoa até que estejamos no mesmo lugar que ela [5] e o lidar com a perda pela morte é uma das situações em que este princípio deve ser aplicado com especial afinco.

Na parashá desta semana, após a perda dos seus filhos, e sem ter tido a oportunidade de processar seu luto, Aharón começa a receber as instruções e se ocupar das funções especiais do sacerdócio. Que seu exemplo dolorido nos sirva de lição para que a morte não seja tratada como tabu nem tampouco ignorada. A morte de cada pessoa é um evento natural, parte da vida, e, mesmo assim, um momento no qual um mundo inteiro é destruído.

Que neste shabat, cada vida que nos tocou e que partiu deste mundo possa ser lembrada e que sua luz possa continuar iluminando o nosso caminho.

Shabat Shalom,


[1] Lev. 10:1-7

[2] https://bit.ly/3gs1CBB

[3] Mishná Sanhedrin 4:5

[4] https://bit.ly/3dDGG91

[5] Pirkei Avot 2:4



domingo, 5 de maio de 2019

Uma oração para ser dita antes da leitura de parashat Acharei Mot

Serve também para antes de parashat Kedoshim, que leremos esta semana...


(Original em inglês obtido em 03/05/2019 de https://opensiddur.org/prayers/ solilunar/shabbat/morning-torah-reading/prayer-to-be-recited-before-the-reading-of-aharei-mot-by-steven-greenberg/. Traduzido pelo rabino Rogério Cukierman)


Oração para antes da leitura de Acharei Mot
Rabino Steven Greenberg

Mestre do Universo, conhecedor de todos os segredos,
perante a Ti nos postamos, confusos e destemidos,
em parashat Aḥarei Mot, fala-se em “abominação”
e um em cada dez mulheres e homens
ouvem as palavras "V'et Zakhar" e choram
nos bancos mais distantes,
pária e quebradas.

Quando lemos estas palavras agora, Deus lembre-se verdadeiramente
das miríades de almas que, desde a juventude,
encontraram em seus corações uma conexão feroz,
um amor poderoso para com os membros do próprio sexo.

Lembre-se, ó Senhor, do seu medo paralisante,
do desejo aterrorizante, do abraço envergonhado.
Acusando a si mesmos com toda a força da lei
de perversões que só poderiam ser remediadas pela morte.

Lembre-se dos milhares consumidos pela vergonha,
expulsos em indignação ou sofrimento invisível.
Ninguém ousou imaginar que, ao invés de amaldiçoados,
eles fossem abençoados pelo Um, que varia Suas criaturas.

Mestre do universo, por quê?
As lágrimas dos oprimidos chegaram ao Teu coração?
É possível que Torá exija que expulsemos
amadas filhas, amados filhos?

Se eles não têm poder e não há reparação,
Então, Tu és o conforto deles, sua força e fortaleza.
Abençoa-nos com paz e aos nossos sábios com ternura.
Concede-nos força do alto para mantê-los no amor.

Seja generoso com o dom da esperança de cima,
para a vida e integridade, sua salvação está próxima.
רִבּוֹנוֹ שֶׁל עוֹלָם, חֲכַם הָרָזִים
לְפָנֶיךָ עוֹמְדִים נְבוּכִים, אַךְ נוֹעָזִים
כִּי בְּפָּרָשַׁת אַחֲרֵי מוֹת עַל תּוֹעֲבוֹת קוֹרְאִים
וְאֶחָד מִכָּל מִנְיַן, נָשִׁים וּגְבָרִים,
שׁוֹמְעִים אֶת הַפָּסוּק ”וְאֶת זָכָר“ וּבוֹכִים
בְּפַאֲתֵי בָּתֵי כְּנֶסֶת
מְנֻדִּים וּשְׁבוּרִים.

זְכֹר נָא ה׳ בְּקְרִיאָתֵנוּ עַתָּה
הַנְּפָשׁוֹת הָרַבּוֹת עוֹד מִיָּמִים יְמִימָה
שְׁגִּלּוּ בְּלִבָּם זִיקָה עַזָּה
לִבְנֵי מִינָם, אַהֲבָה אֵיתָנָה.

זְכֹר נָא ה׳ אֶת פַּחְדָּם הַמְּשַׁתֵּק
אֶת חֶרְפַּת הַחִבּוּק וְחֶרְדַּת הַמִּשְׁתּוֹקֵק.
שָׁפְטוּ אֶת עַצְמָם בְּכָל תֹּקֶף הַדִּין
כִּמְחֲיָּבֵי מִיתָה עַל עִווּת הַמִּין.

זְכֹר רְבָבוֹת בְּבוּשָׁה הִתְאַכְּלוּ
הוּקְעוּ כְּתוֹעֵבוֹת אוֹ בְּסֵתֶר סָבְלוּ.
לֹא הֶעֱלוּ בְּדַעְתָּם בִּמְקוֹם הַקְּלָלוֹת
לְבָרֵךְ ”בָּרוּךְ … מְשַׁנֶּה הַבְּרִיּוֹת“.

מָרֵיהּ דְּעַלְמָא, הָאִם וְאֵיךְ
”דִּמְעַת הָעֲשֻׁקִים“ עָלְתָה עַל לִבְּךָ?
הַיִּתָּכֵן שְׁתּוֹרָה בִּקְּשָׁה לְהַחֲרִים
בָּנוֹת אֲהוּבוֹת, בָּנִים אֲהוּבִים?

אִם אֵין לָהֶם כֹּחַ וּבְלֹא מְנַחֵם
הְיֶה אַתָּה נֶחָמָה עֲבוּרָם וְתִפְלָטֵם
שִׂים שָׁלוֹם בֵּינֵינוּ וּבְלֵב חֲכָמֵינוּ נְדָבָה
וּמִשָׁמַיִם תַּעַזְרֶנּוּ לְתָמְכָם בְּאַהֲבָה

אַנָּא הַעֲנֵק לְכֻלָּנוּ תִּקְוָה
לְחַיִּים שְׁלֵמִים וְלִישׁוּעָה קְרוֹבָה

sexta-feira, 3 de maio de 2019

O individual e o coletivo nas rezas comunitárias


No começo da leitura de Acharei Mot, a parashá desta semana, Aharon recebe instruções sobre um ritual que envolve oferecer um sacrifício por suas próprias transgressões e trazer dois bodes em nome da comunidade de Israel: um deles será oferecido em sacrifício a Deus e o outro será enviado ao deserto, para Azazel. É com relação a este segundo bode que foi cunhada a expressão “bode expiatório.”

Em meio a este enigmático ritual, o texto instrui que “quando [Aharon] vier expiar pelo sagrado, nenhuma pessoa ficará na Tenda do Encontro até que ele saia. Ele deve deve buscar a expiação por si mesmo e pela sua família e pelo Povo de Israel.” (Lev. 16:17) Ao explicar esta passagem em sua obra Torei Zahav (1819), o rabino Biniamin de Zelazitz escreveu: “nós sabemos que antes de rezar, nós devemos nos despir dos nossos corpos. Seu pensamento deve buscar a exaltação de Deus como se você estivesse nos mundos superiores, rodeado de anjos ao invés de pessoas.”

Que desafio! Nas nossas corridas rotinas, já são poucos aqueles que conseguem se organizar para ter uma prática cotidiana de rezas. A tradição judaica determina que algumas destas preces, como por exemplo o Kadish, devem ser ditas apenas se houver uma comunidade de pelo menos 10 pessoas reunidas para a reza e, portanto, buscamos rezar com um grupo. Que complexo, então, conseguir abstrair do grupo que nos rodeia para tentarmos atingir o nível de abstração e conexão consigo próprio e com Deus que nos possibilite verdadeira comunhão com o Divino!

Há, aqui, dois valores em tensão: a necessidade de comunidade e a busca pela introspecção - ambos objetivos explícitos de nossa experiência judaica da reza em comunidade. O que podemos fazer, de forma conjunta, para facilitar o processo individual de introspecção e busca do Divino? Que papel cada um de nós deve ter para que, como escreveu o rabino Biniamin de Zelazitz, possamos sentir que estamos nos mundos superiores rodeados por anjos? Para que nosso apoio mútuo seja presente e efetivo mas não sirva de distração no momento da reza, inviabilizando seu mais sincero propósito? Questões sem respostas únicas ou óbvias, com as quais cada de nós deve se encontrar novamente a cada serviço religioso.

Que em todas os serviços deste shabat, consigamos atingir rezas vivas, presentes e transformadoras, com kavaná (intenção) e investimento pessoal!

Shabat Shalom!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Dvar Torah: Yom Kippur Morning (UIUC Hillel)


It was not an easy decision to start walking with a kipah six or seven years ago. I wanted it to be a constant reminder that l was walking in God's presence, that I am here to serve the world and not the other way around, that the people I interact with, from the prospective student to the University president, from Hillel's largest donor to the beggar at the street corner, from my newborn baby to my 100-year-old grandmother, we are all created in the Divine image and we deserve to be treated with dignity. It was also a symbol to the rest of the world, showing that l was serious about my engagement with my Jewish tradition, and that l was studying to become a rabbi. My reluctance, on the other hand, had to do with expressing what kind of religious Jew I was becoming, a message that was not carried by my kipah, even when I tried a gorgeous pink one.

 

But back to acknowledging Gods presence in all moments of my life, which was a huge factor in the decision. What about the moments in which I don't want anyone with me? Times in which I am about to do something that I know is wrong ‐ or simply, when I want to go the bathroom? Yeah.... The bathroom was one of my big crisis with my kipah for quite some time and it took me two or three years to stop taking my kipah off when I went there. Lets acknowledge: there is the beauty of religion, the intricate poems we read and the lofty sermons we hear at services - and there is the messiness of life, with bathrooms and dirt, and poverty, and wars; and we are all much better served if we can keep these two worlds (the synagogue and the real world) as separate as possible.

 

Except that this approach is the very opposite of what the Jewish tradition has to say on the matter. Judaism, as a way of living, is not limited to the four walls of this room. If Torah is really meant to become a tree of life, it needs to encounter life, and this encounter can only happen when we open our whole lives to the values we talk about during religious services.  Without being with us when we meet our daily lives and dirt, and poverty, and wars, Judaism loses much of its power and significance. 

 

And before we get to the topic of sex, let me start with a story and a request. First, the story:

 

A few months ago, Lisa Brown, a Michigan State Representative, was suspended from speaking on the House Floor because she mentioned the word "vagina." Does anyone here know what she said before she got to the word vagina? Here it is the text:

 

Yesterday we heard the representative from Holland speak about religious freedom. Im Jewish. I keep kosher in my home. I have two sets of dishes, one for meat and one for dairy, and another two sets of dishes on top of that for Passover. Judaism believes that therapeutic abortion, namely abortions performed in order to preserve the life of the mother, are not only permissible but mandatory. The stage of pregnancy does not matter. Wherever there is a question of the life of the mother or that of the unborn child, Jewish law rules in favor of preserving the life of the mother. The status of the fetus as human life does not equal that of the mother. The status of the fetus as human life does not equal that of the mother. I have not asked you to adopt and adhere to my religious beliefs. Why are you asking me to adopt yours?

And finally Mr. Speaker, I'm flattered that you're all so interested in my vagina but no means no.

 

Regardless of your position on the abortion debate, Rep. Brown was making a thoughtful claim for religious freedom in this country - and, yet, most people don't have any idea of what she said, and she is now famous nationally because of one word: vagina.

 

So, this is my request: today we are going to talk a bit about sex but, more importantly, we are going to talk about human dignity. Keep that in mind. Dont let the word "sex" prevent you from listening to the values that we will discuss here today.

 

And, for the record, before my speaking privileges are also revoked for speaking about sex on Yom Kippur ‐ I am not the one who made the choice of topic. It's part of the traditional liturgy for this day. The text that is traditionally read on Yom Kippur afternoon is Leviticus 18, which you will find in your blue booklets and deals with rules of proper sexual behavior. There we find prohibitions against incest, and against sexual acts practiced as part of pagan religious ceremonies, and against sex with animals. We also find the following statement: “do not lie with a man in the ways of lying down with a woman; it is an abomination. (verse22) This verse had been used as textual proof that homosexuality [at least male homosexuality) is absolutely forbidden by the Jewish religion.

 

Now... let me go on a detour and give you some background for how I think we need to read this text, and all of Torah for that matter. I do not see Torah as a lesson plan, a document telling me how to conduct my life, step by step. God created us in the Divine image and gave us the intellect and the capacity to discern right and wrong, good and bad and, therefore, make our own decisions. To stay within the realm of metaphors in the field of education, I see Torah as a set induction. Set induction are the activities the teacher does in the beginning of a class to stir peoples interest in the matter.

 

So, when I read the verse do not lie with a man in the ways of lying down with a woman; it is an abomination," I do not read it as an absolute condemnation of same sex relationships, I read as an invitation to discuss the ethics of intimate relationship and get to conclusions that are relevant to me, my generation, my values and the world I live in. Homosexuality might even be one of the topics of the conversation, but it is certainly not the only one - and while Iwant Jewish values at the center of this process, I have the right to get to conclusions that are not the traditional ones. In the words of Rabbi Mordechai Kaplan, one of the most influential Jewish thinkers of the 20th century, "Tradition has a vote, but not a veto.

 

It might sound revolutionary, but it is the traditional rabbinic way of reading the Torah. In Deutoronomy 21:18-21, parents are instructed to take their rebellious children to the gates of the city, so they could be stoned to death. I have met many rebellious children in my life (and I might have been one myself.) but I have never heard of anyone being stoned because of this. The rabbis understood that the text was an invitation to discuss relationships between children and their parents - not a free card to physical punishment as a form of education. A rabbinic text from the 2nd century asks why these commandments were included in the biblical text and the answer is, so that you can learn it, discuss it , and be rewarded through your growth.

 

Many Reform, Reconstructionist and Conservative communities have, for many years, abstained from engaging in this conversation. Different from the perspective I am trying to transmit here, it was understood that this passage was not an appropriate reading for Yom Kippur. You wont find it in your Reform Machzor. But this approach has been challenged in the past 10 or 20 years. In the words of Jewish Feminist Theologian, Judith Plaskow,

 

As someone who has long been disturbed by the content of Leviticus 18, I had always applauded the substitution of an alternative Torah reading - until a particular incident made me reconsider the link between sex and Yom Kippur. After a lecture I delivered in the spring of 1995 on rethinking Jewish attitudes toward sexuality, a woman approached me very distressed. She belonged to a Conservative synagogue that had abandoned the practice of Leviticus 18 on Yom Kippur, and as a victim of childhood sexual abuse by her grandfather, she felt betrayed by that decision. While she was not necessarily committed to the understanding of sexual holiness contained in Leviticus, she felt that in quietly changing the reading without communal discussion, her congregation had avoided issues of sexual responsibility altogether. She wanted to hear her community connect the theme of atonement with issues of behavior in intimate relationships, to have it publicly proclaim the parameters of legitimate sexual relations on a day when large number of Jews gather. (Judith Plaskow, Sexuality and Teshuva: Leviticus 18" in Beginning Anew, p. 291)

 

I don't want to scare anyone, but I find it important to talk about some of the statistics of sexual violence on college campuses:

   One in five women are raped during their college years.

   In two third of the cases, the attackers were classmates or friends. In 25%, they were boyfriends or exboyfriends.

   More than one in 5 men report "becoming so sexually aroused that they could not stop themselves from having sex," even though the woman did not consent.

   In a survey of students at 171institutions of higher education, alcohol was involved in 74% of all sexual assaults. http://wwwnyu.edu/shc/pmmotion/svstat.html

 

We simply cannot afford not to have this conversation or to claim that this is not a Jewish issue! Risks are simply too high ‐ there is too much at stake.

 

Remember my kipah and my attempt to be always reminded that every person I meet was created in the Divine image and deserves to be treated with dignity. Treating with dignity, in my view, involves not humiliating or hurting another person; not manipulating people for our own satisfaction; recognizing their feelings, thoughts and desires as much as we recognize our own. Are you being treated  with dignity when you go out at night, or when you are in a loving relationship? Are you treating other with dignity? How would you define dignity? What role can Judaism have as you think about these questions?

 

Talking about these issues is not easy - and the topic itself is a complicated one. Rabbi Danya Ruttenberg, who is nowworking at the Fiedler Hillel in Northwestern University, wrote,

 

Jewish sexuality is nothing if not complex. And, perhaps, Jewish sexuality ‐ or, at least, our understanding of it - may be more complex now than ever before. Over the last generation or so, the effects of postmodernism, feminism, and queer libration have become all too keenly felt, creating something of a sea change in how we address sex and sexuality. More people than ever are talking about how to maximize sexual empowerment between consenting adults, and the belief that sexuality itself is a societal construct worthy of examination is becoming increasingly widespread. As a result of work both in the academy and in people's real lives, a whole new set of questions with which to address our time-honored traditions has become apparent. There are new ways to challenge the tradition's underlying assumptions, to think about how an ancient idea might speak to our current, ever evolving understanding of human potential, and perhaps to offer thorny sources a little sexual healing.

 

Our tradition teaches לא עליך המלאכה לגמור ולא אתה בן חורין לבטל ממנה. It is not upon you to finish the work, but you are not fee to desist from it. We are not going to finish addressing these questions here today - but l wanted to instill the seeds for this conversation to continue happening and Hillel is interested in creating the framework - a safe space for thoughtful, honest and respectful conversation on the topic of Jewish sexual ethics, aiming at both learning and getting to your own conclusions. If you would like to be part of it , please come talk to me or send me an email.

 

Gmar Chatimah Tovah - may we all be inscribed and sealed in the book of life for a year full of joy, happiness, growth and engagement with the world.