sexta-feira, 3 de maio de 2019

O individual e o coletivo nas rezas comunitárias


No começo da leitura de Acharei Mot, a parashá desta semana, Aharon recebe instruções sobre um ritual que envolve oferecer um sacrifício por suas próprias transgressões e trazer dois bodes em nome da comunidade de Israel: um deles será oferecido em sacrifício a Deus e o outro será enviado ao deserto, para Azazel. É com relação a este segundo bode que foi cunhada a expressão “bode expiatório.”

Em meio a este enigmático ritual, o texto instrui que “quando [Aharon] vier expiar pelo sagrado, nenhuma pessoa ficará na Tenda do Encontro até que ele saia. Ele deve deve buscar a expiação por si mesmo e pela sua família e pelo Povo de Israel.” (Lev. 16:17) Ao explicar esta passagem em sua obra Torei Zahav (1819), o rabino Biniamin de Zelazitz escreveu: “nós sabemos que antes de rezar, nós devemos nos despir dos nossos corpos. Seu pensamento deve buscar a exaltação de Deus como se você estivesse nos mundos superiores, rodeado de anjos ao invés de pessoas.”

Que desafio! Nas nossas corridas rotinas, já são poucos aqueles que conseguem se organizar para ter uma prática cotidiana de rezas. A tradição judaica determina que algumas destas preces, como por exemplo o Kadish, devem ser ditas apenas se houver uma comunidade de pelo menos 10 pessoas reunidas para a reza e, portanto, buscamos rezar com um grupo. Que complexo, então, conseguir abstrair do grupo que nos rodeia para tentarmos atingir o nível de abstração e conexão consigo próprio e com Deus que nos possibilite verdadeira comunhão com o Divino!

Há, aqui, dois valores em tensão: a necessidade de comunidade e a busca pela introspecção - ambos objetivos explícitos de nossa experiência judaica da reza em comunidade. O que podemos fazer, de forma conjunta, para facilitar o processo individual de introspecção e busca do Divino? Que papel cada um de nós deve ter para que, como escreveu o rabino Biniamin de Zelazitz, possamos sentir que estamos nos mundos superiores rodeados por anjos? Para que nosso apoio mútuo seja presente e efetivo mas não sirva de distração no momento da reza, inviabilizando seu mais sincero propósito? Questões sem respostas únicas ou óbvias, com as quais cada de nós deve se encontrar novamente a cada serviço religioso.

Que em todas os serviços deste shabat, consigamos atingir rezas vivas, presentes e transformadoras, com kavaná (intenção) e investimento pessoal!

Shabat Shalom!

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