sexta-feira, 5 de abril de 2019

A busca permanente por significado na Torá

A parashá desta semana, Tazria, é uma das que mais têm desafiado rabinos e comentaristas ao longo dos séculos a encontrar significado e relevância para sua vida cotidiana. A seu respeito, o rabino Art Green escreveu: “Como alguém encontra algo relevante a dizer quando a Torá está tão preocupada com doenças de pele e a cor das lesões de alguém?”[1] Se a Torá é realmente uma “árvore da vida para aqueles que a ela se apegam (…), seus caminhos são caminhos de doçura e todas as suas veredas são de paz”, como explicar uma parashá que demonstra pouca empatia para com o aflito por doenças de pele?
O rabino Jonathan Sacks propõe que há uma dissonância cognitiva entre nossa leitura literal do texto e sua real intenção [2]. De acordo com ele, a discussão para o tratamento de tzara’at (a condição de pele discutida nesta parashá) não devem ser entendidas a partir da dicotomia doente x saudável e sim dentro do paradigma de impureza x pureza. Citando diversas fontes tradicionais, o rabino Sacks atribui à transgressão de “Lashon haRá” (a fofoca com intuito malicioso) a responsabilidade por esta condição de impureza.
A mesma abordagem metafórica é adotada pelo rabino Noam Elimelech, um mestre chassídico do século 18, que associa a pele ao nosso orgulho. Nesta leitura, o inchaço da pele seria sinal de um orgulho que se desenvolveu demais, tornando-se arrogância.
O que o comportamento arrogante e o hábito de falar mal dos outros têm em comum? Ambos têm a capacidade de esgarçar o tecido social, causando danos que vão muito além das pessoas que foram diretamente afetadas. O afastamento social temporário para aqueles que desenvolvem estas práticas, como é instituído na nossa parashá, busca limitar seu impacto, permitindo que seja tratado antes de “contagiar” toda a sociedade.
Em nossos tempos, em que a veiculação de informações inverídicas pelas redes sociais tem se tornado a norma mais do que a exceção, em que realidades históricas são distorcidas pela conveniência política de quem as diz, quando egos super-inflados fazem com que as pessoas tenham pouca disponibilidade para considerar pontos de vista diferentes dos seus, a parashá Tazria ganha especial importância. Urge buscarmos formas equivalentes ao tratamento proposto na Torá, para garantirmos o bem estar coletivo da sociedade.
Claramente, “עץ חיים היא”, “a Torá é uma árvore da vida”, sempre relevante em nossas vidas!
Shabat Shalom!

[1] Arthur Green; Ebn Leader; Ariel Evan Mayse; Or Rose. “Speaking Torah: Spiritual Teachings from around the Maggid’s Table”, vol. 1, p. 283.

[2] Jonathan Sacks. “Covenant & Conversation: A Weekly Reading of the Hebrew Bible; Leviticus: the Book of Holiness”, pp. 187-193

.[3] “Speaking Torah”, pp. 276-277.

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