quarta-feira, 2 de outubro de 2019
Dvar Torá: Rosh haShaná 5780 (CIP)
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
Lembra de quem queríamos ser?
(originalmente publicado em http://www.institutobrasilisrael.org/2019/09/27/lembra-de-quem-queriamos-ser/)
No universo dos feriados religiosos, Rosh haShaná e Iom Kipur não estariam na lista das 10 datas mais populares. Com suas metáforas sobre o Dia do Julgamento e o nome (em hebraico) de “Dias Terríveis” (Iamim Norayim), estas datas precisam urgentemente da repaginada de marketing que Jon Stewart pediu para outros feriados judaicos. A verdade, no entanto, é que, por trás do nome pouco popular (abandonado na tradução para o português) e das metáforas complicadas, temos conceitos religiosos profundos que se sobrepõem de forma quase paradoxal: uma autocrítica intensa e um otimismo quase ilimitado.
Tanto a crítica quanto o otimismo têm origem no conceito de tshuvá, palavra em hebraico cuja tradução pode variar de “resposta”, a “retorno” a “arrependimento”. Eu gosto de pensar em todos estes sentidos entrelaçados, nos quais a tshuvá da qual falamos nesta época do ano é a resposta que damos ao nosso processo de cheshbon hanefesh, a “contabilidade da alma”, a reflexão sobre os caminhos que nossas vidas estão tomando. Ao reconhecermos nossas conquistas no ano que termina e identificarmos as áreas em que nos afastamos dos nossos objetivos, tentamos voltar à nossa rota; através do arrependimento, voltamos à melhor versão de nós mesmos. O otimismo é expresso na possibilidade permanente de engajarmos neste processo de tshuvá, mesmo quando o “retorno” implica caminhar uma grande distância. Estes conceitos, eu acho, foram perfeitamente capturados por um antigo supervisor de estágio meu, o rabino Eric Gurvis, que certa vez distribuiu adesivos após sua prédica de Iom Kipur que diziam “Lembre-se de quem você queria ser”.
Para muitos de nós, lembrarmos de quem queríamos ser pode ser um esforço complexo. A necessidade de pagar a conta do aluguel todo mês ou de acordar cedo para levar os filhos à escola faz com que, muitas vezes, abramos mão de valores que nos eram caros mas que não nos ajudam nas demandas práticas da vida. Como mecanismo de defesa, ao nos distanciarmos dos ideais que tínhamos, apagamos os velhos sonhos. Em algum momento, passamos a acreditar que somos o que sempre tínhamos querido ser, apesar de todas as evidências do contrário.
Países ou movimentos nacionais, no entanto, costumam registrar de forma mais sistemática onde eles gostariam de chegar. Neste Rosh haShaná em que Israel tenta, mais uma vez, organizar um novo governo, vale a pena olharmos para os sonhos que o país um dia teve para si mesmo e pensar o que “Lembre-se de quem você queria ser” pode significar neste contexto. Neste processo, busquei a Declaração de Independência, como documento que expressava os sonhos dos fundadores do Estado. Percebe-se um otimismo claro no documento (alguns diriam “ingenuidade”), a esperança de um relacionamento de parceria com a ONU, de relações possíveis com os países vizinhos, de tratamento equânime entre todos os seus habitantes, de respeito aos seus idiomas, religiões e culturas. Cada um de nós terá suas próprias tshuvot na comparação entre este documento e a realidade do Estado de 71 anos, que precisa pagar o aluguel e acordar cedo para levar as crianças, mas que ainda contém dentro de si muitos dos valores registrados na Declaração de Independência. Quando consideramos “Quem Israel gostaria de ser?”, podemos identificar quais sonhos foram largados ao longo do caminho que, agora, gostaríamos de retomar e nos perguntar qual papel nós brasileiros podemos ter nesta retomada de valores e de sonhos?
Shaná Tová!
Que nossas vidas — os sonhos, as ações, os valores, as restrições — façam diferença e mereçam ser registradas no Livro das Vidas.
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
Dvar Torá: O que fazemos com as passagens ofensivas da Torá? (CIP)
O que fazemos quando as palavras da tradição não refletem os valores que acreditamos que o Judaísmo defende ou, ainda pior, quando elas refletem os valores opostos?
Frente a regras como estas, precisamos de estratégias para não descartarmos o Judaísmo como um todo, para não jogar o bebê com a água suja.Eu conheço quatro estratégias distintas – quatro estratégias que estão todas elas fundamentadas na tradição judaica e que têm seus adeptos hoje em dia. Muita gente, talvez a maioria de vocês, alterna em diferentes estratégias para cada situação ou ao longo de suas vidas.
O incômodo é parte deste processo de crescimento judaico – e se eliminarmos todas as passagens que nos causam incômodo, limitaríamos tremendamente nosso crescimento no encontro com a Torá!
Um judaísmo crítico, contemporâneo e relevante não tem respostas prontas, muitas vezes nos desafia e nos causa algum nível de desconforto. Mas o prêmio para aquele que se engaja com ele verdadeiramente de corpo e de alma, até ficar com as unhas cheias de terra, é absolutamente recompensador, trazendo significado e textura a cada passo que damos, a cada ação que tomamos, a cada emoção que sentimos.
Em busca do discurso respeitoso
sexta-feira, 9 de agosto de 2019
Dvar Torá: Tishá b'Av – do desespero à esperança (CIP)
sexta-feira, 19 de julho de 2019
Escute a verdade, de quem quer que a diga
sexta-feira, 12 de julho de 2019
Dvar Torá: Procurando uma vaca vermelha para os moradores de rua de São Paulo (CIP)
É difícil imaginar que não se envolver com uma pessoa nas ruas esteja causando algum dano real. Afinal, você passa muitas pessoas que não são sem-teto todos os dias com as quais você também não reconhece ou faz contato visual.
Certamente isso é exagerado, certo?
Bom, sim e não.
Você está certo de que há pouco ou nenhum mal em uma única pessoa ignorando uma pessoa sem-teto tentando interagir com ela. Pode ser rude, mas não vai fazer ou quebrar o dia de ninguém.
Mas a questão é que nunca é apenas uma pessoa.
Você não pode realmente se dar conta da escala do problema, a menos que você mesmo o experimente. A maioria das pessoas se comporta exatamente da mesma maneira, e o efeito é cumulativo.
Imagine um dia em que nenhum de seus colegas de trabalho olhasse para você, sua família te ignorasse quando você tentasse falar com eles e até mesmo estranhos na rua faziam de tudo para evitar você.
Como isso seria?
Agora imagine isso acontecendo todos os dias.
Depois de um tempo, os sem-teto que estão sujeitos a esse tratamento começam a se sentir como se fossem fantasmas observando o mundo, incapazes de participar plenamente dele. Se eles tentam iniciar conversas, suas palavras caem em ouvidos surdos. Eles são ignorados, desumanizados e invisíveis.